Ensino secundário
Concurso de Vídeo Escolar 8 e Meio. O teu filme pode fazer parte desta longa história
Estão abertas as inscrições para a décima sexta edição do concurso promovido pelo clube de cinema da Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim.
O convite é dirigido a todos os alunos de escolas secundárias de Portugal continental e ilhas: podem inscrever-se, até ao dia 15 de setembro, com filmes nunca antes apresentados, com duração máxima de oito minutos e meio (incluindo genérico e os créditos finais), de tema livre. O concurso vai premiar os três filmes externos que mais se distingam — e ainda o melhor dos filmes realizados por alunos da Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim.
Estão destinadas ao três prémios principais as quantias de 600 euros, 400 euros e 200 euros, respetivamente. Para participar, basta submeter o filme a concurso e a ficha de inscrição preenchida no site do clube de cinema 8 e Meio, promotor da iniciativa. Os melhores serão escolhidos por um júri composto por três elementos de fora da escola organizadora, com trabalho reconhecido na área do cinema. Já o júri do prémio interno deverá contar com um elemento do clube 8 e Meio, um representante da direção da Secundária Eça de Queirós (ESEQ) e um representante da associação de pais da escola.
Tanto no clube de cinema como no concurso de vídeo escolar, homenageiam-se de forma regular os mestres da sétima arte — não fosse o próprio nome o título de um clássico realizado pelo italiano Federico Fellini. Jean-Luc Godard, Friedrich Wilhelm Murnau e Alfred Hitchcock são projeções recorrentes nos encontros dos jovens cinéfilos da ESEQ e já serviram de mote ao cartaz e spot promocional desta iniciativa que, todos os anos, recria uma cena de um filme de culto. Desta vez, o aquário de peixes através do qual se veem os rostos de dois alunos da ESEQ não deixa enganar: é Rumble Fish - Juventude Inquieta, de Francis Ford Coppola, que serve de inspiração (spot promocional no YouTube).
Cabe aos jovens cineclubistas escolher, com os professores responsáveis, o filme que contagia a maior iniciativa que organizam todos os anos. O seu papel é ativo também na preparação e concretização da entrega de prémios: “São eles que fazem a folha de sala, que gerem os convidados, que estão nos bastidores e que apresentam a cerimónia da entrega de prémios”, conta Luís Nogueira, professor e um dos coordenadores do 8 e Meio.
Uma juventude inquieta a registar-se a si mesma
Com o passar dos anos, “os projetos dos alunos têm-se tornado cada vez mais sofisticados.” Quem o diz é também Luís Nogueira. O professor da ESEQ destaca a autonomia dos participantes que, todos os anos, se inscrevem por sua própria iniciativa. Ao longo dos últimos 15 anos, têm passado pela competição filmes de diferentes géneros cinematográficos com estilos e visões plurais. “Ficamos sempre um bocadinho abismados com a qualidade dos filmes”, reconhece.
Já em novembro de 2019, por altura da entrega de prémios da 13.ª edição, o professor explicava ao PÚBLICO na Escola que as temáticas eram “muito coladas” ao que os alunos tinham vivido, “ao contexto (eles vivem muito o presente)”. Além disso, “foram ficando mais cáusticas”, constatava. “Fazer um filme em 2009 não é fazer um filme em 2019, o que os cerca é diferente. Há muitos filmes perturbantes, a abordar questões de fronteira. Talvez estejam a ficar mais políticos, não sei.” E fazer um filme em 2022, com uma pandemia que dura há mais de dois anos e novos desafios para a juventude, como pano de fundo, não será o mesmo que fazer um filme em 2019.
No 15.º concurso, os três primeiros prémios foram um reflexo da evolução do olhar que acompanha o tempo em que os seus autores vivem. No dia 29 de janeiro de 2022, o Cine-Teatro Garrett recebeu os vencedores da última edição para a atribuição de prémios. Em primeiro lugar ficou REM Sleep, de Helena Brito (Escola Artística Soares dos Reis, Porto); em segundo A caixa de Pandora, de Mara Lisboa (Escola Artística António Arroio, Lisboa); e em terceiro Overthinking vs Reality, de Lurdes Marques (Escola Artística e Profissional Árvore, Porto). O prémio ESEQ foi para dois filmes de animação: Eternidade, de Miguel Ramos, e TIME, de Gabriela Miranda.
Agora que o 8 e Meio conta com uma história que já vai longa, encontram-se no sangue novo do cinema português nomes de antigos participantes, conta Luís Nogueira. Afinal, há sonhos que se podem realizar ainda na escola. E esse pode ser apenas o começo de uma carreira na cinefilia — seja como realizador ou como espectador comprometido com o que se faz na sétima arte.
Os filmes vencedores destes quinze anos de história estão disponíveis no site do 8 e Meia. Numa viagem no tempo através destes vídeos, é percetível a evolução tecnológica. Mas há algo que se mantém: o empenho de estudantes. Na carta do diretor da ESEQ, José Eduardo Lemos, publicada no mesmo site, o destaque vai para o arquivo que, sem este concurso, não existiria: “De facto, detemos já um espólio importante de manifestações artísticas, construído com a generosidade e visão dos alunos que, ano após ano, nos brindam com propostas renovadas de exploração das imagens em movimento, sempre tão ricas em possibilidades comunicativas.
“O que interessa é que, nas escolas, este gosto pelo cinema esteja permanentemente presente. Porque o cinema é uma ferramenta com muito valor”, reforça Luís Nogueira.