O tempo dele e dela

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Chove chuva e cada dia está mais frio. O nosso Instituto de Meteorologia, que é, de longe, o mais correcto, bem avisa: "descida da temperatura máxima". Todos os dias. Anteontem, segunda-feira, segredaram "[A]guaceiros, em especial no Minho e Douro Litoral, que podem ser de neve nos pontos mais altos da serra da Estrela a partir da tarde".

Os meus amigos, não só no Minho e Douro Litoral, como em Lisboa e aqui, ao lado de Sintra, quando me queixo da chuva e do frio, ralham comigo e dizem-me que tanto ela como ele "estão no tempo deles".

Assim chega a mentalidade de Novembro. Ainda falta uma semana para ser Novembro e já o nosso espírito, tal como a falta de graça do Cartoon Issue do New Yorker de 31 de Outubro, se faz sentir, como a falta de chumbo na gasolina menos destrutiva.

Há a alegria ou a alegre ilusão de um calendário independente da vontade humana. Cada dia é um dia e, por muito que teimemos nos meses e nas estações, somos sempre surpreendidos. Somos sempre presos.

Esta é a fase, muito prematura por definição, de achar que o clima é independente de nós e da nossa acção. Resta a incerteza, que age como esclarecimento, de termos apenas uma ideia, enquanto ficamos no escuro.

Há uma diferença enorme entre a expectativa do tempo e a apresentação dele. Quanto mais pequena for a diferença entre uma coisa e outra, mais podemos folgar.

Acontece que é o contrário que acontece - e que aquilo que devemos fazer é preocuparmo-nos.

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