João Neves, o “efeito borboleta” e o triunfo do Benfica em Vizela
Em Vizela, um penálti fez os “encarnados” sofrerem mais do que seria suposto, depois de uma hora de jogo com futebol de bom nível.
“O bater de asas de uma borboleta no Brasil pode causar um tornado no Texas”. Este é um cliché mais do que batido, mas que permite explicar que o “efeito borboleta”, que prevê a alteração de uma consequência pela alteração de uma pequena variável inicial, está em marcha no Benfica, pela acção de João Neves.
O pequeno médio teve um raio de acção de tal forma alargado – mas aparentemente insignificante – que todo o futebol “encarnado” no triunfo (2-1) em Vizela, neste sábado, foi, por consequência, afectado pela acção do jogador na fase inicial do futebol ofensivo.
João Neves foi o “dono da bola” na partida da quinta jornada da I Liga, com um jogo de alto nível em vários domínios – da circulação à criação, passando pela recuperação, pelo controlo dos ritmos e, sobretudo, pela “omnipresença” a dar linhas de passe no Brasil (zona de construção), para facilitar tudo o que era feito no Texas (zonas de criação).
E o Benfica teve dinâmica, combinações curtas, futebol criativo, fluidez, oportunidades de golo e, mais importante, golos. É verdade que sofreu mais do que parecia suposto, depois de um penálti que deu o 2-1 ao Vizela, mas o triunfo pela margem mínima até pareceu curto. Ainda assim, a equipa "meteu-se a jeito" de sair com Vizela com apenas um ponto e esse susto a si própria o deve.
Vizela partido
O jogo em Vizela teve um detalhe curioso, que foi a predilecção do Benfica pelo ataque pela zona central e a do Vizela de sobrepovoar precisamente essa zona.
Esta comunhão de interesses sugeriria dificuldade “encarnada” para criar futebol, mas o Vizela, por muito astuta que tenha sido a opção de limitar o jogo interior do Benfica, acabou por sofrer pela sagacidade dos lisboetas – que chamavam Aurnses e Bah ao jogo quando o Vizela estava mais fechado, atraindo os vizelenses, tendo, depois espaço por dentro.
Di Maria, Rafa, João Mário e Musa estiveram em permanente movimentação e isso também tirou referências de marcação aos jogadores do Vizela, cujo comportamento defensivo era quase sempre o de “abafar” o portador da bola, mesmo quando a equipa não subia em bloco, havendo espaço entre linhas.
Juntar trocas posicionais do ataque com pressão descoordenada da defesa dá, muitas vezes, equipas partidas com facilidade.
Foi isso que aconteceu aos 9’, quando a pressão alta do Vizela foi batida com um “simples” passe vertical. João Mário colocou-se atrás da linha de pressão adversária e teve, depois, espaço para o desequilíbrio. A bola passou por Aursnes, Kokçu (grande passe), Rafa e finalização de Musa – sempre com o Vizela atrasado.
A ideia do Benfica era sempre a mesma, mas nunca com os mesmos “artistas”, fruto da constante movimentação e facilidade de bater a pressão intensa do Vizela – António Silva, João Neves (jogo tremendo) e Kokçu fizeram-no bem, quer em condução, quer em passe.
Penálti de Samu
Outra dinâmica interessante foi a virtude de ter um lateral de “pé trocado”. Como destro à esquerda, Aursnes não dá profundidade, mas consegue ter sempre linhas de passe em zonas interiores, dando fluidez à circulação – um lateral canhoto vai sempre à procura de um ala para entregar a bola, ficando mais limitado de opções do que Aursnes, cujo pé direito tinha sempre João Mário, Kokçu, Otamendi e por vezes até João Neves por dentro.
Sempre com tabelas curtas e com poucos passes errados, o futebol “encarnado” foi fluido e criativo, com uma dessas combinações, aos 38’, a dar falta sofrida por Rafa e livre-directo batido por Di Maria para o 2-0.
Na segunda parte, o Benfica assumiu, sem surpresa, uma postura mais expectante. A equipa continuou a ser “dona da bola” e isso permitiu que os minutos passassem sem especial problema, até pela incapacidade do Vizela para sair para o ataque.
Já depois de uma grande oportunidade perdida por Musa, o Vizela, sem que pouco o fizesse prever, chegou ao golo. Aos 67’, um penálti cometido por Aursnes permitiu a Samu reduzir para 2-1.
A diferença mínima não fazia tanto sentido como o 2-0 e deixou os “encarnados” com dúvidas – a forma de chegar ao 3-1 poderia ser o caminho para sofrer o 2-2. A equipa acabou por baixar o bloco e permitir ao Vizela alguma presença ofensiva, mas sem grande engenho.