Reconheço: o Azul também foi afectado pela febre dos concertos de Coldplay em Portugal. Mas há um lado Azul (ou verde, se preferirem) nesta banda como, aliás, se comprova com o belo texto da Renata Mendes que publicámos esta semana. Sobre a questão de sermos todos dinossauros que está também no título desta newsletter, já lá iremos. Mantenha-se atento.

"A tour da banda que vê o mundo 'all yellow' promete ser muito verde, assumindo uma lista extensa de compromissos com o ambiente. Existe, no entanto, algum cepticismo quanto a estas promessas ambientais", escreveu o Azul. Por mais estranho que pareça, o caso Coldplay tem várias frentes ambientais.

Mostra, por exemplo, o poder que alguns têm na sua voz. A mensagem do João que vive na casa ao nosso lado não chega muito longe. Mesmo a mensagem na notícia que nos conta a história de dezenas de jovens a fechar escolas ou a tentar travar uma refinaria não tem o alcance que merecia. A poderosa voz dos Coldplay parece chegar a todo o lado.

Quando disseram que iam fazer uma pausa na digressão por causa da pegada ambiental, o mundo ouviu. Agora que voltaram à estrada (neste caso, às nuvens, dado que viajam de avião) insistem que querem ter o menor impacto ambiental possível. Prometeram plantar uma árvore por cada bilhete vendido e, portanto, adivinha-se uma generosa floresta a nascer por aí em breve.

Por mais falhas que se possa encontrar no plano "verde" dos Coldplay, a mensagem passa: as questões ambientais importam. Olhem para o que eu falo e não para onde falho, é melhor do que nada. Por falar em fazer e na dificuldade de agir correctamente: quem respeitou o pedido para devolver as já famosas pulseirinhas LED (feitas de materiais à base de plantas, garante a banda, 100% compostáveis) para possibilitar a sua reutilização?

Havia muito a escrever sobre o lado mais ou menos verde dos Coldplay, mas para isso, podem ler o texto que a Renata Mendes escreveu. Para mim, o mais importante aqui é que assim se confirmou o papel importante que as artes podem ter no alcance da mensagem pela defesa do planeta e pela causa da luta sobre a crise climática.

Este caso mostra que um músico, um escritor, uma actriz, um artista não só pode como deve usar o seu palco para defender a Terra. As artes também podem ajudar a salvar o planeta. E o que é que isto tudo tem a ver com a história de sermos todos dinossauros?

Um pouco de contexto primeiro para não estranharmos a mudança brusca no tom da newsletter: o Azul fez um ano em Abril e em Maio ofereceu uma conferência que tinha como tema específico as cidades costeiras e as ameaças da crise climática. No debate que abriu a conferência, moderado de forma exemplar por Andréia Azevedo Soares, a conversa acabou por resvalar e fugiu da costa.

"Vivemos um tempo de emergência planetária", frisou Miguel Miranda, presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), lembrando a velha história de Walter Alvarez que ainda é questionada por alguns cientistas sobre o momento em que um asteróide atingiu a Terra e os dinossauros foram extintos.

Mas as ameaças nem sempre são meteoritos ou outros fenómenos externos e estranhos. Hoje, a mais preocupante ameaça é o desequilíbrio ambiental que nós próprios criámos quando ocupámos a Terra de uma forma invasiva e racional, defendeu Miguel Miranda, concluindo: "Nós somos o dinossauro, nós somos muitos dinossauros que estamos neste planeta, caímos num desequilíbrio e queremos sair dele."

Os apelos, opiniões e explicações sobre a crise climática que enfrentamos também vieram de um palco, numa sala do Super Bock Arena, no Porto. E a verdade é que Miguel Miranda e os outros oradores da conferência Cidade Azul querem passar mais ou menos a mesma mensagem que os Coldplay. Têm isso em comum: querem dizer que é importante que nos importemos.

Miguel Miranda não enche estádios com pessoas ansiosas e em êxtase para o ouvir, mas digam lá se não era uma coisa bonita de se ver? Milhares de dinossauros a esgotar um estádio em Coimbra durante vários dias só para ouvir falar sobre a emergência que enfrentamos hoje na Terra.

Reconheço: comecei esta newsletter com os Coldplay para tentar chamar a atenção para outras vozes que se juntam aos Coldplay na defesa do nosso pontinho azul no universo. Resultou?