Uma das maiores antológicas dedicada à obra de Julião Sarmento, Abstracto, Branco, Tóxico e Volátil permite-nos ver, no seu labirinto, diferentes recortes de um sismógrafo livre, generoso, talvez melancólico, da arte e da cultura. Um artista. No Museu Berardo, até ao final do ano.

A selecção e disposição dos trabalhos nas 18 salas foi realizada pelo próprio Sarmento antes da sua morte em colaboração com Catherine David (com quem José Marmeleira percorre a exposição...). E coube à directora do Museu Berardo, Rita Lougares, concretizar o espaço com o apoio de vários intervenientes, com destaque para os antigos assistentes do artista. Em última análise, é uma exposição de Julião Sarmento. São as suas obras — em pintura, desenho, múltiplos, instalação, fotografia, o filme — e a exposição foi imaginada e desenhada por ele próprio. Sendo assim, o mais justo talvez seja dizer que o que vemos é um reflexo, nas obras, de um artista, reflexo em que se vislumbram perfis, silhuetas, marcas.

 

Quatro razões para sair de casa e ir a uma sala de cinema:

Alexandre O'Neill por João Botelho: aos 72 anos, Botelho estreia um filme inspirado na biografia de Maria Antónia Oliveira sobre O’Neill. É uma homenagem ao “vulcão” que amou Lisboa, as mulheres, a liberdade. É Um filme em Forma de Assim e nada disto é verdade, avisa o realizador em conversa com Isabel Lucas. Verdadeira só a conversa que ajuda a explicar um filme

 

A história de Sita Valles redescoberta por Margarida Cardoso: um documentário sobre uma heroína trágica de Angola e sobre o “tempo maldito” que a fez desaparecer. E sobre os milhares de mortos que o MPLA insiste em silenciar: os do 27 de Maio de 1977. Mas acabamos Sita - A Vida e o Tempo de Sita Valles como começámos, cheios de perguntas e poucas respostas. Como diz ao Ípsilon Edgar Valles, irmão de Sita, “os pontos por esclarecer só se conseguirão aclarar quando o regime permitir que haja uma investigação a sério”.

 

O diário de Luma, a vaca, por Andrea Arnold: durante quatro anos, a cineasta britânica seguiu a vida de Luma. Vaca tem na sua linhagem alguns momentos antididácticos do realismo social e político britânico, algumas das suas jóias heterodoxas. O que pode dizer o olhar de uma uma vaca quando olha para nós...?

 

Imagine agora um cruzamento entre Blade Runner, de Ridley Scott, Strange Days de Bigelow e AI de Spielberg/Kubrick, mas sem estardalhaço, sem “espectáculo” — e ficará mais próximo da singularidade de A Vida depois de Yang, de Kogonada. Kogonada é um mistério. Não se sabe o nome por trás deste pseudónimo, não se sabe a origem e nem a idade. É apenas Kogonada, como uma entidade a existir para o cinema, desde que se tornou famoso pelos seus ensaios de montagem divulgados na net e depois encomendados por editoras como a Criterion para inclusão, como “extras”, nos seus DVDs. A única coisa que o pseudónimo revela é uma paixão por Ozu: Kogo Noda era um dos mais fiéis colaboradores (como argumentista) do realizador japonês.

 

Marco Mendes, um dos autores mais singulares da BD portuguesa, tem novo livro, talvez o mais pessoal dos que publicou até hoje, sempre autobiográficos. Juventude deverá ser lançado já em Junho e promete avivar memórias de toda uma geração. Sem precisar, sequer, de palavras. Lucinda Canelas descobre-o com Marco.

 

Gonçalo Frota apresenta os You Can't Win Charlie Brown que, passados seis anos sobre o álbum anterior, regressam a cantar em português, como se tivesse sido sempre assim. A digressão de apresentação de Âmbar, disco atravessado por nomes femininos, arranca a 4 de Junho no CCB.