Indagações de Rachel Cusk sobre arte, política, sobre o papel da mulher, sobre a linguagem. Indagações em Segunda Casa e na conversa com Isabel Lucas.

É sempre uma mesma interrogação vincada: o que pode ser um romance?

Continua a ser a pergunta decisiva para a escritora de 55 anos, natural de Saskaton, Canadá, filha de pais britânicos, que passou a primeira infância em Los Angeles e cresceu em Suffolk, Inglaterra. Viveu em Londres, depois numa casa rural em Norfolk, até se mudar para Paris, em 2021, como reacção pessoal, política ao Brexit. É de lá que nos chega, por telefone, um sotaque britânico vincado, hesitações a compor as ideias, risos que contradizem a aspereza que lhe apontam.

"Neste livro, procurei encontrar uma forma que permitisse explorar as múltiplas maneiras de se ser mulher, mas que fosse esbatida ou embaciada pelo modo como as instituições funcionam e o que continuam a esperar das mulheres. De como o modo de gestão comunitária age de forma estranha, e não particularmente boa, à partilha dessas experiências ou ao modo como elas são partilhadas. As pessoas — incluindo as mulheres — não são muito empáticas umas com as outras nesse aspecto. Mas parece-me que a 'vida pós-familiar das mulheres' — na falta de melhor expressão — não é comunitária. Cada uma é deixada a encontrar a sua saída, a saber como se situar nessa paisagem feminina que continua. Ela tem de a descobrir".

Cusk e Segunda Casa. Há motivo de celebração.

 

Helena Buescu partilha connosco Mundo, de Ana Luísa Amaral. Deixo-vos aqui o que escreveu

 

 

Filmes, agora:

Uma intuição de casting, Cécile de France, Xavier Dolan, Jeanne Balibar, Gérard Depardieu ou Jean-François Stévenin,​ um colectivo de actores com o texto de Balzac no corpo, ajuda Xavier Giannoli a transcender o filme de época e a chegar ao seu melhor em Ilusões Perdidas. É a minha escolha da semana.

Seguem-se as de Luís Miguel Oliveira e Jorge Mourinha

Javier Bardem, como "padrinho" de província (desconfia-se, com as coisas que ele faz com o rosto e com os olhos, a gestualidade, que a “pauta” para a personagem foi encontrada no Michael Corleone de Al Pacino), faz uma caracterização justa do pequeno poder económico de província em O Bom Patrão, de Fernando Léon de Aranoa

 

Um belo filme, daqueles cuja (re)descoberta não implica apenas (re)descobrir um filme, antes qualquer coisa que tem a ver com nós todos e já não existe: Terra Estrangeira, de Walter Salles e Daniela Thomas. Falamos de Lisboa. Como era. Como éramos. Como em A Cidade Branca, de Tanner, ou O Estado das Coisas, de Wenders.

 

Gritos, o quinto. O mundo precisava disto? Ninguém diria que sim. Mas, vai-se a ver, uma fita de terror sardónica é mesmo, segundo Jorge Mourinha, o que o médico receitou

 

 

A música fica entregue a Cat Power (terceiro álbum de versões, Covers vai de Billie Holiday e Bob Seger a Frank Ocean e Lana del Rey), ​FKA Twigs (escuta-se uma maior intenção pop em Caprisongs, mas isso não faz com que a cantora-compositora britânica sacrifique a sua voz, a identidade artística e o desejo de invenção) e The Weeknd (Dawn FM, em que Abel Tesfaye dança como se não houvesse amanhã, porque pode não haver mesmo).

 

 

Deixo-vos com a história dos misteriosos quadros dos meninos de uniformes azuis