A atribuição do prémio Reina Sofia a Ana Luísa Amaral veio confirmar a consagração internacional de uma autora que está hoje traduzida em várias línguas e tem vindo a receber sucessivas distinções em diferentes países. Mas o prestigiado prémio espanhol veio também sublinhar, por contraste, a relativa desatenção doméstica a uma obra que trouxe à poesia portuguesa uma voz feminina difícil de arrumar nas gavetas disponíveis. Influências? “Nem tágides nem musas: só uma força que me vem de dentro”.

O perfil, por Luís Miguel Queirós: "revelou-se tarde, aos 34 anos, mas também não há muitos livros de estreia que nos interpelem com uma voz tão segura, tão própria e tão veemente como a que se dava a ouvir em Minha Senhora de Quê, que Ana Luísa Amaral publicou em 1990. Hoje, aos 65 anos, com 18 livros de poesia (mais um no prelo, que se chamará Mundo), um romance, ensaios, livros para crianças, e ainda traduções de poetas como Shakespeare ou Emily Dickinson, Ana Luísa Amaral é também um dos poetas portugueses vivos de maior projecção internacional, como o atestam as edições dos seus livros em chancelas tão prestigiadas como a americana New Directions ou a alemã Carl Hans Verlag, a par de uma fiada de prémios internacionais coroada, em Maio, com o Reina Sofia de Poesia Ibérica. Professora aposentada da Faculdade de Letras do Porto e investigadora do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, é ainda um nome central dos estudos feministas portugueses, co-autora do Dicionário de Crítica Feminista e responsável pela edição anotada das Novas Cartas Portuguesas. Ditou os primeiros versos aos 5 anos, aos 12 não ia para férias sem o saco dos poemas, aos 14 dactilografou-os todos numa Singer que ainda conserva. Assume a sua dimensão excessiva, mas em poesia troca de bom grado a transgressão, que rompe com a tradição, pela arte mais subtil da subversão, que a mina por dentro."

Agora a entrevista... 

 

 

Numa terra imaginária, Marieke Lucas Rijneveld criou um mundo ingénuo, violento, trágico, belo, incómodo. Nele procura saber o que é a morte e onde está Deus. Ganhou o Booker International, aos 29 anos, com O Desassossego da Noite. É o momento de ler uma voz totalmente à parte.

“Escolhi este título porque há muitas inconveniências no livro. Há desassossego uns com os outros, há desassossego com o corpo, há desassossego com os dias e desassossego com as noites”, refere Marieke a Isabel Lucas. “Penso que somos mais vulneráveis à noite. Durante o dia, temos muitas distracções.”

É o primeiro romance de Marieke Lucas Rijneveld, aquele que tirou a sua biografia do anonimato fora dos Países Baixos. Não sendo autobiográfico, contém uma mundividência familiar a Rijneveld, um mundo feito de estranheza, marcado pelo incómodo, o escatológico, tudo num fluxo de consciência de uma criança que sobrevive e inquire o que a rodeia a partir da imaginação. A conversa está aqui...

 

Um ano particularmente fértil musicalmente como um caleidoscópio de sons e imagens, de grandes transformações e choques sociais e culturais. Bem-vindos a 1971 — The Year That Music Changed Everything. É uma nova série, disponível em streaming na Apple TV+, criada por uma equipa de realizadores e produtores entre os quais encontramos Asif Kapadia, Danielle Peck, James Rogan, Chris King e James Gay-Rees, associada a documentários como Amy, Senna ou Diego Maradona.

Os anos 1960 já eram, o seu idealismo chocara com a realidade. Chegavam novos protagonistas, novas formas de encarar e agir no mundo. O activismo dos Black Panthers, em diálogo com a música de Marvin Gaye, Gil Scott-Heron, Staples Singers ou Curtis Mayfield, a luta feminista e as vozes femininas a encontrarem espaço para o seu discurso, nos seus termos, John Lennon a falar das grandes conquistas da sua geração, mas para as desmentir: “O que é que mudou, afinal? Não mudou nada."

Mário Lopes prolonga o retrato. E dedica-se em especial a uma das suas personagens. Por essa altura, David Bowie, depois do sucesso de Space Oddity e antes da reinvenção enquanto Ziggy Stardust, experimentava as mais diversas roupagens para perceber como devia, afinal, aperaltar-se para se transformar de figura marginal em busca de uma carreira no músico lendário que se revelaria. “Acho que a música deve aperaltar-se, ser transformada numa prostituta, numa paródia de si mesma”, dizia à Rolling Stone no dia 1 de Abril de 1971. Temos matéria para satisfazer a nossa curiosidade: The Width of a Circle, caixa de dois CD que compila o 1970 de Bowie em actuações radiofónicas, singles e a banda-sonora de uma peça televisiva​, e um filme que chegou às salas, Stardust, o Nascer de uma Estrela.