Prisão de Tires já tem 150 reclusas infectadas. Guardas ainda não foram testadas

Os dois maiores pavilhões da prisão de Tires albergam 320 reclusas das quais apenas 173 foram testadas até agora.

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Paulo Ricca

O número não pára de aumentar: já são 150 as reclusas do Estabelecimento Prisional de Tires infectadas com covid-19. Depois dos quatro casos identificados no início da semana, os serviços prisionais procederam à testagem do pavilhão das reclusas condenadas na quinta-feira à tarde e, das 169 reclusas, 146 acusaram positivo. O número foi transmitido ao PÚBLICO pelo presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, Jorge Alves, mas a Direcção-Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais (DGRSP) só confirma 121.

Na quinta-feira, a DGRSP tinha garantido ao PÚBLICO que estavam a ser testadas as 320 reclusas dos dois maiores pavilhões, o das condenadas e o das preventivas, mas nesta sexta-feira o presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, Jorge Alves, confirmou que foram apenas alvo de teste as primeiras. E que as reclusas do pavilhão das preventivas só serão testadas amanhã, sábado.

Apesar de o PÚBLICO ter questionado os serviços prisionais sobre o número de testes já realizados, a DGRSP respondeu apenas que “prossegue a testagem às restantes reclusas”. E o corpo de guardas prisionais só deverá ser testado a partir de sábado. Ou seja, as guardas - que têm acesso a todas as reclusas, incluindo as que estão na casa das mães, as do regime aberto interior e as do pavilhão das mais vulneráveis - serão as últimas a ser testadas.

De acordo com informação do sindicato, estará a ser montada uma tenda do INEM na prisão, que se deverá destinar à testagem das reclusas e das guardas prisionais. Nesta sexta-feira, estiveram na prisão os serviços de saúde pública e até o director-geral dos serviços prisionais. 

Das 146 infectadas, pelo menos 20 serão transferidas para o Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, no Porto, onde já estarão outras duas reclusas de Tires que acusaram covid-19 no início da semana, tal como o PÚBLICO noticiou ontem.

Ao início da manhã desta quinta-feira, a direcção da prisão recebeu a confirmação de 66 casos positivos e ao fim da manhã somaram-se mais 55, indica a DGRSP. A direcção dos serviços prisionais ordenou então a “afectação das reclusas positivas, genericamente assintomáticas, a um pavilhão do estabelecimento prisional onde permanecerão em isolamento, separadas da restante população prisional, e sob vigilância e acompanhamento de pessoal clínico do Hospital Prisional que foi para o efeito convocado”.

Os dois pavilhões principais da prisão de Tires têm 40 celas individuais cada um e o restante espaço está dividido em camaratas para quatro ou cinco reclusas, pelo que haverá reclusas infectadas que terão que partilhar a cela.

As visitas e as actividades de trabalho e de formação escolar e profissional foram suspensas na segunda-feira à tarde aos dois principais pavilhões, quatro dias depois de a direcção da prisão ter sido informada de que uma reclusa transferida na semana passada para o hospital prisional de Caxias tinha acusado positivo quando lá chegou. Mas só agora estão também proibidas as visitas às reclusas da casa das mães e ao pavilhão das vulneráveis.

Os serviços prisionais dizem que vão proceder a “nova testagem de todos os trabalhadores da prisão”, mas a verdade é que apenas tinham sido alvo de teste 52 das cerca de cem guardas, a que se soma mais uma dezena de pessoas entre os serviços clínicos – onde já foi identificada há dias uma enfermeira infectada. Foram testes voluntários em Março e Abril e desde então só tinham sido testadas 13 reclusas quando entraram na prisão. Todas as outras reclusas nunca tinham sido testadas. Há também duas guardas prisionais infectadas, de acordo com informação do sindicato, mas os serviços prisionais apenas admitem a existência de uma guarda.

O surto na prisão de Tires terá começado na semana passada. Uma reclusa, que esteve internada dois meses no hospital de Cascais e que saía regularmente da prisão para exames e consultas sem fazer quarentena no regresso, testou positivo depois de ter sido enviada para o hospital prisional de Caxias por causa de outra doença. Apesar disso, a direcção da cadeia ordenou na sexta-feira uma busca geral e só informou as guardas prisionais da infecção na segunda-feira. Apesar de haver algumas dezenas de reclusas com sintomas compatíveis com a covid-19 há vários dias, não foram sujeitas a isolamento nem a testagem até esta quinta-feira à tarde.

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