Por que é o Rt mais pequeno em regiões onde há mais casos?

O rácio de transmissibilidade, ou Rt, tem dado indicações sobre o grau de contágio da covid-19, mas não é igual em todo o país. Em Lisboa e Vale do Tejo, que mais casos tem registado nas últimas semanas, é menor do que noutras regiões.

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LUSA/PAULO CUNHA

Tem sido um dos indicadores mais falados desde o início da pandemia, mas ganhou ainda mais destaque com o avançar das medidas de desconfinamento. O rácio de transmissibilidade, ou Rt, tem dado indicações sobre o grau de contágio da covid-19, mas não é igual em todo o país.

Foram vários os dados apresentados na quarta-feira aos decisores políticos sobre a situação do país. Uma das apresentações – não terá sido a única a referir-se a este indicador – mostrava um Rt nacional de 1,08, uma média dos últimos cinco dias. O mesmo foi feito para cada uma das regiões, todas elas com valores acima de 1. No caso do Norte, essa média estava em 1,13, no Centro em 1,08, em Lisboa e Vale do Tejo em 1,05, no Alentejo em 1,47 e no Algarve em 1,52.

Mas por que é o Rt mais baixo em regiões com mais casos? “O Rt é um rácio de contágio, é independente do patamar em que está e o que ele visa é a reprodução dos casos que estiverem a acontecer na altura”, diz a directora da Escola Nacional de Saúde Pública.

Carla Nunes explica que este indicador diz “se estamos constantes, a crescer ou a descer no patamar [de casos] em que se está”. Se for igual a 1 significa que um caso infectado dará origem a um outro caso, mantendo-se nesta situação a progressão da infecção constante. Se estiver acima, começa a crescer o número de casos e se for inferior a 1 haverá um decréscimo lento dos casos, já que cada infectado dará origem a menos de um caso. Esta é a situação desejável.

Se uma região tem um patamar mais alto de casos, será mais difícil que o Rt aumente, pois é preciso uma proporção maior de infecções para a sua alteração. Por exemplo, se uma região “passasse de dez casos para 15, o Rt seria de 1,5”. Mas “se fosse 300 casos, um Rt 1,5 implicaria que se passasse para 450, o que seria mais difícil”. Carla Nunes refere que o Rt “é muito mais variável e sensível nos pequenos números de casos” e refere que deve ser visto sempre também o número de novos casos. “Um indicador não resolve uma imagem, seja qual for o indicador”, salienta.

Um outro dado importante é também a identificação das cadeias de transmissão. Se estas forem conhecidas é possível aplicar medidas concretas para tentar travar a propagação da infecção. Segundo uma das apresentações feitas aos políticos na quarta-feira, existem em Portugal 190 cadeias de transmissão activas de um total de 579 identificadas desde o início da pandemia.

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