"Arrested Development": a verdadeira família moderna

Mitchell Hurwitz confirmou o regresso de "Arrested Development", temporada e filme, para o próximo ano

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A "The New Yorker" organiza todos os anos o que poderemos considerar a versão ao vivo desta importante revista - o "The New Yorker Festival". Um evento elitista que “celebra as artes, a música, a literatura, as ideias” e a cidade de Nova Iorque com diversas actividades. Debates com gente como David Cronenberg, T.C. Boyle, William H. Macy ou Jonathan Franzen, um passeio com vista para os arranha-céus da cidade com Frank Gehry, uma visita ao atelier do artista neo-neo-neo... classicista Jacob Collins, seguida pelos já famosos passeios gastronómicos do cronista/humorista/poeta/génio Calvin Trillin. Mas, ao terceiro dia, aconteceu o que se torna, surpreendentemente, no assunto mais falado do festival: Mitchell Hurwitz confirmou o regresso de "Arrested Development", temporada e filme, para o próximo ano.

Em 2003, Hurwitz chama, por sugestão de Ron Howard, Brian Grazer e David Nevins para que juntos criassem e produzissem uma série na ressaca da surpreendente, e à data desconhecida, "The Office". Ora, "The Office" deu-nos coisas maravilhosas - Gervais e Stephen Merchant - e uma coisa má. Recupera um terrível tique do cinema dos anos 60, que depressa se espalhou (ver no que se torna em "Parks & Recreation"), a que dão o nome, tecnicamente, de "hand-held camera" ou "shaky camera" (um tal Lars von Trier chamou-lhe "free camera" em tempos). Este é, mais ou menos, o problema de muitos dos que por cá filmam e que resulta, eu que o diga nas minhas aventuras televisivas, em estados terríveis de enjoo.

Mas era exactamente isso que Howard queria. O desconforto causado pela instabilidade "parkinsoniana" acentuaria a disfuncionalidade de uma família que, tal como uma América - e já agora a Europa - daqueles e destes dias, vive bem além das suas possibilidades e em declínio cognitivo: os Bluth.

Uma família perfeita 

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David “Blue Man” Cross DR

Falamos de "Arrested Development" como se de uma daquelas equipas de futebol perfumado se tratasse. Perfeita em tudo. Jogadores galácticos: Jason Bateman, um veterano que começou a sua carreira em "Uma Casa na Pradaria"; o nosso bem querido Will Arnett, Jeffrey Tambor (o genial juiz parafílico Alan Wachtel da "Balada de Hill Street"), Michael “Juno” Cera, Portia De... Generes, Tony Hale, o extraordinário David “Blue Man” Cross e a diva Jessica Walter. Uma equipa técnica com realizadores como Paul Feig, os irmãos Russo, Greg Mottola, Peter Lauer, argumentistas como Barbara Feldman ou Abraham Higginbotham e, como “corpo dirigente”, os supracitados Hurwitz, Grazer, Howard e Nevins. Tudo resultou, apesar do entusiasmo da crítica (a revista "Time" considerou-o um dos cem melhores programas de televisão de sempre), em fracos resultados e na retirada ao fim de três temporadas.

A famosa crítica Nancy Franklin, que patrocinou o debate em que se revelou o regresso da série, escreveu, a 10 de Novembro de 2003, oito dias depois da estreia , o que nunca pensaria que viria a acontecer (e que realmente aconteceu): “É o tipo de programa que queremos contar a todos, mas que dificilmente partilharemos. Se a "Fox" descobre o quão bom é, não tarda muito em cancelá-lo.”

P.S. A nova temporada de "Arrested Development" vem associada ao processo de recuperação de credibilidade da Netflix, reforçando o fenómeno que já referi em "Dear Will Ferrell". Será transmitida online.

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