O primeiro bar parisiense atingido pelos atentados reabre as suas portas

"É tempo de nos voltarmos a encontrar, de estarmos unidos, de avançarmos para não esquecermos", lê-se no quadro colocado à entrada do La Bonne Bière.

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Os clientes começaram a chegar às 9h30: "Precisamos de estar novamente com as pessoas do bairro" Kenzo Tribouillard/AFP
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"Vamos mostrar-lhes que somos mais fortes do que eles", assegura Audrey Bily, a gerente do café Kenzo Tribouillard/AFP
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Ali ao lado, a pizzaria Casa Nostra continua fechada Charles Platiau/Reuters

As luzes voltaram a acender-se, os impactos das balas desapareceram: três semanas depois dos atentados de Paris, o La Bonne Bière, um dos bares atacados, reabriu as portas nesta sexta-feira, marcando o progressivo regresso à normalidade num bairro ferido.

Escrito a giz branco, num quadro normalmente reservado ao menu do dia, palavras simples acolhem os primeiros clientes: "É tempo de nos voltarmos a encontrar, de estarmos unidos, de avançarmos para não esquecermos".

O estabelecimento, onde cinco pessoas foram mortas no dia 13 de Novembro, "eliminou os vestígios do pesadelo" e decidiu reabrir "para fazer renascer o bairro", diz a gerente, Audrey Bily, numa conferência de imprensa improvisada com jornalistas do mundo inteiro. "Vamos mostrar-lhes que somos mais fortes do que eles, por isso vamos recomeçar, vamos fazer renascer a vida deste bairro, dar a volta por cima."

Dezanove mortos no Belle Equipe, 15 na esquina entre as ruas Bichat e Alibert, em frente do bar Le Carillon e do restaurante Le Petit Cambodge, outros cinco na Rua La Fontaine au Roi, em frente ao La Bonne Bière e à pizzaria Casa Nostra.

Todos estes sítios se tornaram lugares de peregrinação. Lugares onde os jovens se iam divertir, antes de serem ceifados pelas rajadas das Kalachnikov do "comando das esplanadas", um dos três grupos de assassinos.

Em cada lugar, o mesmo cenário: milhares de ramos de flores, gotas de cera branca a escorrer das velas, fotografias, pequenas mensagens, bandeiras tricolores, uma guitarra.

No La Bonne Bière, a vitrina foi reposta, e as flores, as velas e as mensagens de apoio foram retiradas da esplanada para dar lugar às mesas e às cadeiras de vime bege. "Fizemos algumas obras, pintámos as paredes, apagámos os vestígios daquele pesadelo. O café Bonne Bière é um lugar de encontros, de trocas e de partilhas. Esse continua a ser o nosso propósito hoje", sublinhou Bily.

Perto de uma dezena de clientes chegou às 9h30 para tomar um café, debaixo dos holofotes das câmaras de televisão. "Precisamos de estar novamente com as pessoas do bairro", diz David, de 45 anos, debruçado sobre o balcão. "Faz-nos bem estarmos entre nós, com as pessoas que vão ao mesmo café, à mesma florista, ao mesmo padeiro", explica este vizinho e cliente habitual dos lugares atingidos.

"Estar aqui é como estar à porta de minha casa. Faz-me sentir bem. É uma sensação de proximidade. Não tem nada de complicado", prossegue David. "As pessoas precisam de se encontrar, de estar unidas. Não podemos ceder ao medo, temos de lutar. A vida tem de seguir. Não podemos viver pela metade", conclui, em tom de desafio.

Sinal do regresso da vida normal, os homens que recolhem o lixo de Paris, com os seus uniformes verdes, param para tomar um café. Por cima da entrada do La Bonne Bière, uma faixa branca e preta parece um desafio aos terroristas: "Estou no terraço."

Ali ao lado, a pizzaria Casa Nostra continua fechada, tal como o bar Le Carillon e o restaurante Le Petit Cambodge, a uns cem metros de distância.

Três jihadistas, entre os quais o presumível instigador dos ataques, o belga de origem marroquina Abdelhamid Abaaoud, terão disparado contra estes quatro estabelecimentos e contra um outro bar na zona leste de Paris, o Belle Equipe. Um dos membros do grupo, Brahim Abdeslam, fez-se explodir num outro local, o Comptoir Voltaire, não tendo matado ninguém para além dele próprio.

A sala de espectáculos Bataclan, palco do maior massacre, 90 mortos, fica a dois minutos dali, a apenas algumas centenas de metros de distância. Os seus proprietários esperam reabrir portas no final do próximo ano.

 

 

 

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