Uma família nas eleições europeias

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É Marine Le Pen que beija o pai ou é Jean-Marie Le Pen que lhe sussurra algo ao ouvido num café de Paris? Não importa. Eles encarnam “uma pequena empresa familiar” com um sucesso acima das suas melhores expectativas. O pai fundou o partido, Marine sucedeu-lhe em Janeiro de 2011 e está a caminho de representar “o segundo maior partido da França”. Manteve-se fiel à herança mas modernizou a “firma”: desdiabolizou a sua imagem, prosseguiu a conquista do voto popular e, depois do êxito nas eleições municipais de 21 de Abril, quer agora vencer as europeias em França. A maior proeza foi ter imposto os seus temas na agenda política: a identidade, a imigração, a insegurança ou o “rancor à Europa”. Ocupou o centro do tabuleiro político.

Os analistas não vislumbram uma “vaga azul” — a sua cor — mas admitem que a Frente Nacional (FN) possa chegar em primeiro lugar ou, mais provavelmente, em segundo. As sondagens são inconclusivas. Marine quer assumir a liderança da oposição ao Governo de François Hollande e forçar uma cisão na UMP (direita), em que parte dos dirigentes tendem já a colar-se aos seus temas. Depois de “tripolarizar” a vida política francesa, a sua meta são as presidenciais de 2017. Sonha disputar a segunda volta. É um cenário que apavora os “partidos do sistema”.

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Marine e Jean-Marie Le Pen, há dias num café de Paris JOEL SAGET/AFP

Os partidos populistas e eurocépticos podem obter resultados impressionantes em muitos países, da Itália à Holanda, da França à Grã-Bretanha, da Hungria à Dinamarca. O impacto de um eventual “tsunami populista” não está na composição do Parlamento Europeu mas nos seus efeitos nas cenas políticas nacionais. Marine quer paralisar Bruxelas através da França, um país central na UE. Alerta Jean-Christophe Cambadélis, primeiro secretário do PS: “A França é o elo fraco da Europa.”

Cambadélis fez, numa entrevista ao Monde, a autocrítica da esquerda que nunca percebeu a dimensão do nacional-populismo na Europa. “Mais grave, continuamos a cometer um erro de interpretação: a FN não é um partido fascista, ou nazi, como existiram dos anos 1930. A FN não está fora dos muros da democracia, marcha dentro deles. (...) Mas o seu projecto é muito mais perigoso do que um fascismo sépia.” Ao exigir uma “purificação cultural” e a supremacia dos “franceses de raiz” sobre os “franceses de papel”, põe em causa a República e atiça a xenofobia, criando um risco de conflito entre comunidades.

Os populistas alimentam-se da crise do euro e dos efeitos da globalização. Prometem aos povos a restauração da soberania nacional. A FN quer um referendo para pedir a saída do euro e da União Europeia. Anotou, em 2011, o filósofo Bernard-Henri Lévy: “Na família Le Pen, Marine é mais perigosa do que Jean-Marie.”

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