O futuro já começou? Qual?

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Alexis Tsipras é desde já a figura dominante da política europeia no primeiro mês de 2015. O líder do Syriza, uma coligação da extrema-esquerda grega, celebrou assim a antecipação das eleições legislativas para 25 de Janeiro: “Hoje é um dia histórico para a democracia grega. O futuro já começou. (...) O povo está determinado a pôr fim à austeridade e aos memorandos.”

O primeiro-ministro conservador, Antonis Samaras, quis antecipar a eleição presidencial e o seu candidato não conseguiu a necessária maioria no Parlamento. Convocou legislativas antecipadas. Ora, com os actuais dados das sondagens, o Syriza, na casa dos 30%, é o favorito. Tsipras pode ser o chefe do próximo Governo de Atenas. E os europeus poderão enfim testar as suas soluções para a dívida e para a austeridade.

“O destino europeu volta a passar por Atenas”, titula um jornal italiano. A Grécia esteve no centro da irrupção da crise do euro em 2009. E aí permaneceu ao longo de 2011 e 2012. Depois de há semanas alguns anunciarem o fim da crise do euro, eis que ela ameaça reabrir-se e, uma vez mais, com a Grécia no centro. Tal como se reabre o cenário extremo da saída grega do euro — a famosa “Grexit” — e de deitar borda fora todos os sacrifícios feitos até hoje. Os prognósticos variam.

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A conferência de imprensa de Tsipras na segunda-feira, após o anúncio das eleições para 25 de Janeiro Alkis konstantinidis/Reuters

Ao contrário das duas eleições legislativas de 2012, desta vez o que estará no centro da campanha não será a aceitação da austeridade mas o programa do Syriza. Que propõe? O aumento do salário mínimo, a suspensão das privatizações ou o fim dos despedimentos na função pública. E, acima de tudo, uma renegociação da dívida. Mas, tal como o executivo de Samaras, já só quer renegociar a parte detida pelos Estados europeus, pelo Banco Central Europeu e pelo Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira. No programa adoptado em Setembro passado, abandonou a retórica da ruptura. A grande maioria dos gregos recusam a austeridade mas não querem sair do euro.

Tsipras e o Syriza encontram-se perante um dilema clássico: como exercer o poder perante os constrangimentos da realidade? Em 2015, as necessidades de financiamento da Grécia atingem os 17 mil milhões de euros. Entretanto, Atenas quase ou nada fez em termos de reformas, estruturais ou fiscais. Terá também de ter em conta os constrangimentos de uma aliança governamental. O que lhe pode ser útil como justificação de pragmatismo. Forças como o Podemos espanhol estão de olhos postos nestas eleições e, sobretudo, na prova governamental de Tsipras. Ele tem uma estreitíssima margem de manobra.

Para Bruxelas, só há uma coisa pior que a incerteza criada por uma vitória do Syriza: é que ele vença e não consiga formar um Governo. Seria o regresso do caos a Atenas. 

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