No IP4 as obras são o caos que antecede a bonançaObras devem terminar apenas em 2012Dados a reterO objectivo

O troço entre o Alto de Espinho e Amarante está transformado num estaleiro. A circulação é caótica e nos próximos meses vai piorarEsperada redução de 65% da taxa de sinistralidade

O contrato assinado pelo consórcio Auto-Estradas XXI, liderado pela empresa Soares da Costa, prevê que o primeiro lanço da futura auto-estrada transmontana esteja pronto em Novembro de 2010 e que a obra fique concluída em Julho de 2011. Mas estas datas dificilmente serão cumpridas. Os trabalhos, segundo o concessionário, só deverão estar concluídos no final de 2011 ou princípios de 2012. Mesmo assim, é um prazo optimista, tendo em conta a extensão da concessão: 186 quilómetros, dos quais 130 serão de obra nova, incluindo uma gigantesca ponte sobre o rio Corgo a partir do nó de Parada de Cunhos, que é onde arranca a auto-estrada transmontana.

Quanto à auto-estrada do Marão, e segundo Francisco Silva, um dos administradores do consórcio liderado pela Somague, o primeiro troço, os quatro quilómetros que ligam o final da actual A4 até ao desvio para o vale do rio Ovelha, deverá estar concluído em meados de Novembro de 2010. Os restantes 25,6 quilómetros, incluindo o túnel e 13 viadutos com uma extensão total de cerca de quatro quilómetros, estarão prontos ainda em 2012. Nessa altura, a viagem entre o Porto e Bragança encurtará em cerca de 44 minutos e a ligação entre Vila Real e Bragança passará a fazer-se em menos 36 minutos. Até lá, ambas demorarão bastante mais do que já demoravam. P.G.A-E Marão

29,3 quilómetros de extensão

425,1 milhões de euros de investimento

30 anos de concessão com cobrança de portagens aos utentes

A-E Transmontana

140 quilómetros de extensão

800 milhões de euros de investimento

30 anos de exploração sem portagensDe acordo com as previsões do Governo, a sinistralidade entre Amarante e Bragança, com as duas novas auto-estradas e a beneficiação do IP4, deverá diminuir em cerca de 65 por cento ao longo dos 30 anos de consessão, o que significa uma diminuição média de 19 mortos e de 23 feridos graves por ano.

Entre 1997 e 2007, morreram no IP4, entre aquelas duas cidades, 247 pessoas (uma média de 22 mortos por ano). Nos últimos dois anos, com a eliminação de algumas zonas de ultrapassagem e a colocação de separadores virtuais, houve uma diminuição significativa do número de mortos (menos oito, ao todo). As estimativas governamentais têm já em linha de conta os resultados verificados na A25. Antes da auto-estrada, morriam no IP5, em média, 20 pessoas por ano. Em 2007, já com a auto-estrada, houve três mortes.

Terça-feira, fim de tarde. Um manto de nevoeiro cobre a parte alta do Marão e só as luzes dos carros e das máquinas em obras deixam adivinhar as faixas de rodagem e o labirinto de desvios em que se transformou o IP4. Logo a seguir ao Alto de Espinho, na parte mais alta da estrada, ainda no lado de Amarante, só a faixa de descida está aberta, comprimida entre separadores de cimento e a encosta descarnada. Quem vem do Porto é obrigado a sair junto à Pousada do Marão e prosseguir pela velha e ziguezagueante EN 15 até ao nó da Campeã. Nas duas faixas de subida, homens e máquinas andam num frenesim a repavimentar o piso, num vaivém que a chegada da noite torna confuso e perigoso.

Alguns quilómetros à frente, o trânsito normaliza-se, mas, de repente, a faixa da descida aparece cortada, para a instalação de redes de protecção nas encostas mais vulneráveis, de modo a conter a queda de pedras e o deslizamento de terras. A circulação, nos dois sentidos, faz-se nas duas vias de subida, unicamente separadas por uma espécie de pinos de borracha com reflectores. O espaço é tão diminuto que alguns desses separadores se encontram já tombados, restando apenas linhas divisórias amarelas a definir os espaços entre os rails e os separadores de cimento.

Por aqui há camiões a passar a todo o momento e, apesar das obras, muitos condutores circulam como se a estrada estivesse desimpedida e não houvesse nevoeiro cerrado, causando verdadeiros arrepios a quem passa. É impossível fazer qualquer ultrapassagem e, para que possam passar ambulâncias, por exemplo, é necessário interromper o trânsito num sentido, o que não é nada fácil, porque as viaturas depois de entrarem neste troço não podem recuar nem tão-pouco encostar.

Quem estiver a fazer o percurso pela primeira vez, julgará que os incómodos se ficam por ali. Mas, já perto de Amarante, o IP4 volta a estar parcialmente cortado, ao longo de quatro quilómetros, até ao início da A4, com a circulação a fazer-se apenas em duas faixas estreitas.

Desde há algumas semanas que aqueles que atravessam diariamente o IP4 se deparam com este calvário, o qual se agrava substancialmente ao fim-de-semana, com a formação de extensas filas de carros. E o pior é que, pelo menos até meados do próximo ano, a situação não vai melhorar. Em certos picos, pode até piorar. Se o Inverno for rigoroso como tem sido nos últimos anos, com a queda de vários nevões, o caos será ainda maior; e nem mesmo o desvio do trânsito para a EN15 resolverá o problema, dada a estreiteza da via e a natureza acidentada do traçado.

Incómodo inevitável

Mas o que está a acontecer é inevitável e serve um objectivo de interesse geral, que é prolongar a auto-estrada de Amarante até Bragança; e decorre também da decisão do Estado de incluir a beneficiação e conservação do IP4 entre Amarante e Vila Real na concessão da Auto-Estrada Transmontana. E o que está a acontecer actualmente nesta via é a sobreposição de duas obras distintas.

Os trabalhos que estão a decorrer ao longo de quatro quilómetros entre o fim da A4, o nó de Padronelos e futura ligação ao IP4, fazem parte da concessão do Túnel do Marão, adjudicada ao consórcio Auto-Estrada do Marão, liderado pela empresa Somague. O caderno de encargos obriga à duplicação dos últimos quatro quilómetros do actual IP4, que é o que está a ser feito. Ao fim deste troço, que não será sujeito ao pagamento de portagens, a futura auto-estrada que ligará Amarante a Vila Real deixa o IP4 e segue pelo vale do rio Ovelha, através de um viaduto de 816 metros. Continua depois pelo vale do rio Marão, com um viaduto de 915 metros, até à base da encosta onde se situa a Pousada do Marão e de onde arranca um túnel (em construção) de cerca de 5,7 quilómetros, com duas galerias, uma para cada sentido. Será o maior do país e vai rasgar a serra do Marão até perto do lugar da Boavista, junto ao nó da Campeã do actual IP4. Daqui, a auto-estrada do Marão segue durante mais 6,8 quilómetros até ao nó de Parada de Cunhos, mas sem se sobrepor ao IP4. E é ali que termina a concessão, que contempla o pagamento de portagens entre a saída para o rio Ovelha e Parada de Cunhos. Entre o nó da Campeã e o nó de Parada de Cunhos haverá uma área de serviço.

As obras em curso no IP4 perto do Alto de Espinho fazem parte da concessão da Auto-Estrada Transmontana, adjudicada ao consórcio Auto-Estradas XXI, liderado pela empresa Soares da Costa. Do caderno de encargos consta não só a construção, conservação e exploração de uma auto-estrada entre Vila Real e Bragança em regime Scut (sem custos para o utilizador), mas também a beneficiação e conservação do troço do IP4 que vai do início da auto-estrada do Marão, junto ao rio Ovelha, até ao nó da A24. E são esses trabalhos de beneficiação que estão a ser feitos em paralelo com a construção das duas auto-estradas.

Mais transtornos pela frente

Nesta fase, estão a decorrer obras de beneficiação e repavimentação dos troços do IP4 mais degradados e de suporte dos taludes, que implicam desvios pontuais do trânsito para a EN15. Essas obras estão concentradas, para já, na parte de Amarante daquele itinerário, mas, em breve, vão começar também no lado de Vila Real.

E há dois trabalhos que vão causar grandes transtornos. Um deles é o alargamento da área de descanso do Alto de Espinho, que obrigará à destruição da actual passagem superior e à construção de uma maior, o que levará inevitavelmente ao desvio do trânsito. O outro é a criação de uma quarta via no troço do IP4 entre Parada de Cunhos e o nó a norte de Vila Real. A ideia é dotar este pequeno troço - que vai ficar fora da auto-estrada do Marão e da auto-estrada transmontana, mas que ligará as duas - de um perfil igualmente de auto-estrada, embora com um separador de cimento reduzido, de modo a tornar mais fácil o acesso à cidade e, em particular, ao hospital distrital. As obras seguintes, "pinturas e sinalização, provocarão incómodo mas serão menos limitativas", promete Armando Caldas, técnico do consórcio Auto-Estradas XXI. Ainda segundo este responsável, a beneficiação do IP4 só estará concluída em meados do próximo ano.

Nesta altura, as obras de construção da auto-estrada transmontana já deverão estar em velocidade de cruzeiro, pelo que os constrangimentos no trânsito nunca chegarão a diminuir. Pelo contrário, irão aumentar com o tempo, sobretudo para os utilizadores do IP4 entre Vila Real e Bragança. Isto porque grande parte da auto-estrada nascerá a partir do actual traçado daquele itinerário, tal como aconteceu com o IP5, que veio a dar origem à actual A25.

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