Director do colégio de Gaia fechou jornal escolar depois de ler texto crítico dos pais

Bispo diz que direcção do colégio é que tem que resolver problema

a O jornal escolar O Nascente do Colégio de Gaia, com 49 anos e periodicidade trimestral, não é publicado desde Março. O director do estabelecimento de ensino, nomeado em 2001 pelo anterior bispo do Porto D. Armindo Coelho, é acusado pelo director da publicação, registada no Instituto da Comunicação Social, de proibir a liberdade de expressão. A diocese do Porto, proprietária do colégio, tem conhecimento da situa-ção, mas só intervirá caso não haja entendimento entre as partes."Quando a tipografia entregou o jornal no colégio, o director, que já andava com a mosca no ouvido, por uma certa incompatibilidade com a associação de pais, mandou uma funcionária abrir o primeiro pacote e viu nas páginas 9 e 10 que a associação de pais o beliscava", conta Samuel Oliveira, de 75 anos, director de O Nascente desde a sua fundação. "Perante isso, o director fez uma ilegalidade: aprendeu o jornal - o jornal escolar mais antigo do país. Chamei-lhe a atenção de que isso era crime." Os 2500 exemplares não foram distribuídos pelas salas de aula e os cerca de 200 jornais não seguiram pelo correio, como era habitual.
Samuel Oliveira decide então escrever uma carta ao director, informando-o de que ou o jornal era distribuído ou "ia denunciar a situação à comunicação social e ao Sindicato dos Jornalistas, por obstrução à liberdade de imprensa". "O director tremeu e colocou o jornal apenas na portaria, não deixou enviar os exemplares pelo correio nem distribuí-los pelas salas de aula." Até que comunicou que, "a partir daí, o jornal não saía". "Isto é inédito na história do colégio. Mesmo antes do 25 de Abril, foram publicadas críticas de estudantes e o jornal não foi suspenso, nem pelo Estado nem por antigos directores", desabafa o responsável, que espera por uma explicação formal. "Como é que um director pode, com esta atitude, ter moral para educar os jovens na liberdade de crítica?", questiona.
O PÚBLICO tentou, sem sucesso, obter uma posição do director do Colégio de Gaia, Queirós Ribeiro. O presidente da associação de pais da instituição, Victor Fernandes, admite que este "ficou zangado com a semântica, mas não com o conteúdo" do artigo. O texto, o quarto publicado pela estrutura representativa dos encarregados de educação no jornal, referia que associação de pais vivia "um período de ostracização por parte do senhor director do colégio". "A questão é de prioridades e o órgão representativo dos pais não pode ser tratado de forma subalterna", lia-se.
"O artigo não mais é do que uma pedrada no charco", avança Fernandes, explicando que pretendia "chamar a atenção dos pais de que, se havia problemas no colégio, não era por falta de intervenção da associação". O responsável garante que o cenário se alterou, que as reuniões com o director da escola são mais regulares e que a questão da segurança, para a qual se chamava a atenção no artigo, está resolvida. Quanto à suspensão do jornal, Victor Fernandes adianta que o próprio director o informou de que estava a repensar o formato. "O director entende que o jornal deve ser um boletim informativo e de divulgação das actividades do colégio e que não pode servir outros interesses que não os do colégio", revela.
Em Abril, na altura em que o último número foi retido, a associação de pais escreveu ao bispo do Porto "apelando para que pusesse novamente em circulação o jornal". "Era bonito que um jornal com quase 50 anos continuasse a sair", defende Victor Fernandes.
O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, tem conhecimento da situação de conflito entre o director do jornal O Nascente do Colégio de Gaia e o responsável pela escola. O descontentamento chegou-lhe aos ouvidos através de alguns antigos estudantes do colégio. Américo Aguiar, do gabinete de informação da diocese, adianta que a questão tem de ser tratada pela direcção do estabelecimento, uma vez que "faz parte das suas atribuições" resolver esses problemas. No entanto, "se as partes não chegarem a um consenso, a partir daí passamos para outro patamar", assume. O Colégio de Gaia tem cerca de 1500 alunos, do pré-escolar ao secundário. Foi fundado em 1933 com o nome Colégio Externato de Gaia por iniciativa do então bispo do Porto D. António Meireles. O jornal da escola, agora suspenso, foi publicado pela primeira vez a 22 de Março de 1958.

49
anos de publicação tem já o jornal do colégio de Gaia, que em Junho, pela primeira vez na sua história, não foi distribuído

Sugerir correcção