Um país pequeno que interessa a muitos outros

Dos países lusófonos à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental passando pelo Conselho de Segurança da ONU, as reacções foram unânimes em condenar a acção militar e exigir o restabelecimento da ordem institucional.

A China, cuja presença no país tem aumentado, manifestou-se "chocada" e "preocupada com o impacto" que o golpe terá na na segurança da Guiné-Bissau, noticiou a Lusa. Também Washington pediu a "reposição da liderança legítima do poder civil"; e o "uso da violência" foi condenado pela França, para onde as atenções se centram em momentos de crise na África Ocidental e na própria Guiné-Bissau, sendo este um país lusófono integrado numa região francófona.

A influência, potencialmente dominante, de países da região sobre um pequeno Estado como a Guiné-Bissau, foi comprovada com a defesa do Presidente Nino Vieira no conflito militar com a Junta Militar em 1998 e 1999, por tropas do Senegal, quando era Presidente Abdou Diouf, e da Guiné-Conacri do então chefe de Estado Lansana Conté.

Mas o desaparecimento desses protagonistas nos últimos anos terá pelo menos atenuado o problema das clivagens fomentadas por forças externas (Nino Vieira foi assassinado em Bissau em Março de 2009 e Lansana Conté morreu, vítima de doença prolongada, em 2008. No Senegal, Abdoulaye Wade, que sucedeu a Diouf, foi apoiante de Kumba Ialá mas saiu de cena, com a derrota nas presidenciais deste ano).

O problema agora é outro e a influência desestabilizadora pode vir dos barões da droga da Colômbia e da Venezuela, que transformaram a Guiné-Bissau, com a cumplicidade de responsáveis locais, num ponto de passagem do narcotráfico da América para a África Ocidental e Europa. Esses podem ter interesse numa desestabilização do país para perpetuar a imagem - e a realidade - da Guiné-Bissau como país sem Estado de direito.

No plano económico, o interesse externo é visível na dinâmica em Bissau. Angola está interessada na exploração de minérios como fosfato e bauxite, e tem um projecto de construção de um porto em Buba, que será a melhor zona de águas profundas da África Ocidental. Haverá, por outro lado, interesse de Luanda como ponto de ligação ao centro de África, com a possível construção de uma linha de caminho-de-ferro. Também a França e o Reino Unido terão interesses, este último no urânio e fosfato.

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