Crimes sexuais a partir de contactos através da Internet estão a aumentar em Portugal

Jovem de Coimbra, com 19 anos, foi violada no segundo encontro com homem que conhecera na Internet

a A Internet funciona cada vez mais como uma ferramenta posta ao serviço do abuso sexual. O aviso partiu da Polícia Judiciária (PJ), que ontem voltou a alertar para as "especiais cautelas" a adoptar nos encontros reais com pessoas conhecidas através da Internet. "As pessoas que se conhecem através da Net são sempre estranhos, mesmo quando se considera ter estabelecido uma relação de confiança online", sublinhou o inspector-chefe da PJ de Coimbra, Camilo Oliveira, depois de mais uma jovem ter sido violada na sequência de um encontro com um homem que contactara na Internet. O suspeito, 33 anos e a frequentar um curso universitário, foi ontem ouvido pelo tribunal, que o proibiu de contactar com a vítima e o obrigou a apresentar-se periodicamente às autoridades até ao julgamento.
Durante um mês, a vítima, de 19 anos e a residir em Coimbra, manteve contacto online com o indivíduo, da mesma cidade. Depois de "terem ganho confiança", começaram a falar e a trocar mensagens por telemóvel. O primeiro encontro teve lugar durante o dia, num café. Duas semanas depois, voltaram a encontrar-se. Foram a um bar, o encontro prolongou-se pela madrugada fora e a violação terá sido consumada quando o indivíduo foi levar a vítima a casa.
"A violação ocorreu na madrugada de 29 para 30 de Janeiro na carrinha de nove lugares em que o sujeito se deslocava, ao pé de um pinhal situado perto da casa da vítima", descreveu o inspector-chefe da PJ, segundo o qual o indivíduo, que não tinha antecedentes criminais, terá interpretado mal os sinais da vítima. "São cada vez mais os predadores sexuais, que vão à Net à procura de vítimas que depois procuram atrair para o mundo real. Mas, neste caso, creio que o indivíduo pensou que a vítima estava virada para um relacionamento sexual e, perante a recusa, não se deteve."
Apesar das acções de patrulhamento que a PJ tem vindo a desenvolver no ciberespaço, a maior parte dos casos de aliciamento e abuso sexual a partir da Internet fica por punir. Sobretudo quando visam menores, porque "as crianças ou nem percebem que estão a ser vítimas ou escondem esse facto dos pais com medo de ficar sem Net".
O mais recente relatório feito a pedido do procurador-geral da República aponta o combate aos crimes sexuais na Net como "um dos maiores desafios de sempre". O documento, divulgado em Abril, mostra que em 2007 foram registados nove desaparecimentos de meninas associados a contactos via chat rooms e messenger. No ano passado, no mês de Setembro, a PJ deteve um homem de 52 anos acusado de ter aliciado uma menor de 13 anos pela Net. Em Julho, dois indivíduos violaram uma rapariga de 16 anos que tinham conhecido na Internet. Mais recentemente, em Novembro, uma criança de 14 anos viajou do Estoril até ao Funchal, sem conhecimento dos pais, para conhecer um rapaz com quem contactara num chat. A menor acabou por ser interceptada pela polícia e a história até acabou bem. Mas, "porque a maioria dos pais não tem ideia dos perigos a que os filhos se expõem através da Internet", a PJ de Coimbra tem a decorrer um projecto-piloto que consiste em fazer acções de formação junto de pais e professores sobre as cautelas a ter no mundo online. "O projecto vai agora ser alargado ao resto do país porque as solicitações têm sido imensas."
A PJ lançou um alerta sobre o facto de a Net funcionar cada vez mais como uma ferramenta posta ao serviço do abuso sexual

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