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“O país parou”: Paola retratou a rebelião dos indígenas no Equador

Ameaças de golpe de Estado no Equador? "Algo que é completamente falso", assegura a fotógrafa Paola Paredes ao P3, em entrevista. "Eu estive lá, falei com as pessoas e posso afirmar, na primeira pessoa, que a história real não era a que se via retratada nos meios de comunicação."

©Paola Paredes
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O Equador viveu, entre 3 e 13 de Outubro, dias de tumulto. A comunidade indígena, revoltada com a retirada de subsídios estatais aos combustíveis – que provocou uma subida de 123% no preço dos combustíveis –, saiu à rua exigindo a sua reposição. De acordo com dados recolhidos pelo jornal The Guardian através do Departamento de Defesa dos Direitos Humanos do país, os confrontos entre a polícia e os manifestantes causaram oito mortes, 1300 feridos e 1200 detidos. O presidente, Lenín Moreno, declarou estado de emergência, com direito a ordem de recolher obrigatório, em Quito, e retirou a sede do Governo da capital, enquanto milhares se juntaram em protesto violento no parque El Arbolito.

A fotógrafa Paola Paredes, que esteve presente ao longo dos dias de protesto, fez retratos dos manifestantes e contou ao P3, numa entrevista, como foi estar no centro desta rebelião. "O país parou", descreve. "As pessoas sentiram necessidade de se manifestar porque a retirada do subsídio [aos combustíveis] estava a afectar os preços de todos os produtos. Quando os preços dos transportes sobem, há reflexos em tudo. A comida precisa de ser transportada, por exemplo." Os mais afectados, afirma, são os pobres. E quem lhes deu voz foi a comunidade indígena, que representa 25% da população equatoriana. "Na verdade, somos todos indígenas, no Equador. Porque somos todos mestiços. Somos uma mistura entre indígenas e europeus. Mas existe uma grande divisão, uma enorme separação fictícia, entre 'nós' e 'eles'." 

Existe, segundo Paola, mais do que racismo no país. Existe "auto-racismo", que é, em termos gerais, a negação individual da raíz indígena na linhagem familiar de cada equatoriano. E o Governo do Equador tentou fazer uso desse estigma, assim como de notícias falsas, para dividir a opinião pública – usando como veículo os meios de comunicação do país que, afirma Paola, estão alinhados com Lenín Moreno. Circularam por toda a imprensa nacional e internacional notícias que afirmavam estar em causa a ordem democrática, que acusavam o anterior Presidente, Rafael Correa, de tentar promover um golpe de Estado. "Algo que é completamente falso", assegura a fotógrafa. "Chegaram a referir que era a Venezuela quem estava por detrás deste movimento. E muitas pessoas acreditaram nestas narrativas ridículas. Eu estive lá, falei com as pessoas e posso afirmar, na primeira pessoa, que a história real não era a que se via retratada nos meios de comunicação. Os manifestantes eram apenas pessoas com as suas causas, pessoas que vivem problemas reais. Pessoas pobres." 

"Vi muita violência. Enquanto fotógrafa, esforcei-me por estar sempre na linha da frente. Vi os manifestantes a atirar pedras à polícia e vi a polícia responder com balas de borracha e gás lacrimogéneo, que é terrível, asfixiante. Oito pessoas morreram. Vi indígenas a sentirem muita frustração pela forma como estavam a ser tratados. Eles nunca foram bem tratados." Mas também assistiu a algo positivo: "Testemunhei muita solidariedade. Havia quem desse de comer e beber aos manifestantes e muita gente se juntava aos protestos durante a noite."

No dia 13, perante a ameaça da chegada de mais 20 mil manifestantes indígenas, o Governo do Equador cedeu. "Foi um grande triunfo para a comunidade e os protestos acabaram. Fiquei muito feliz por saber que foram ouvidos." A vitória, agridoce pelo número de baixas, colocou um travão a mais uma medida de austeridade num país que tem uma dívida externa elevada. "Entendo que tenha de haver equilíbrio das contas públicas, mas acho que devemos pensar colectivamente, ter em consideração as necessidades de todos."

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