A pobreza de Lisboa é de todos

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"Retratar as vulnerabilidades sociais na cidade de Lisboa e os diferentes mecanismos utilizados para as enfrentar" e "superar" conduziu o fotógrafo colombiano Marcelo Londoño, a convite do Observatório - Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa, ao desenvolvimento da série Re-Flectere, que se encontra presentemente patente Edifício Central da Câmara Municipal de Lisboa. É, segundo Londoño, "uma forma de nos reflectirmos nos outros, dissolvendo a barreira que impede de vermos claramente os problemas e as necessidades alheias", uma janela para os problemas que outros enfrentam e que, indirectamente, deveriam ser nossos também. O trabalho foi realizado em vários bairros da cidade de Lisboa e as pessoas retratadas vivem em situação de pobreza. "Durante o desenvolvimento do projecto encontrámos diferentes situações de precariedade, mas o que me surpreendeu verdadeiramente foi a pobreza como construção histórica", explicou Londoño ao P3, em entrevista. O fotógrafo, que frequenta actualmente o mestrado em História Moderna e Contemporânea, em Lisboa, fala de conformismo sócio-económico. "Mesmo actualmente, os grupos vulneráveis parecem determinados a continuar a ocupar um papel na sociedade que lhes foi determinado desde o seu nascimento." Ressalva que há casos de pobreza em que isso não sucede, mas que "esta é a situação de muitos grupos da população": "É uma pena que as condições para evitar [as situações de pobreza e exclusão] não sejam implementadas com todo o empenho necessário, de forma a que estas populações tenham alternativas que lhes permitam desenvolver-se plenamente. Este é um círculo vicioso de desigualdade que introduz problemas muito mais difíceis de resolver a longo prazo. O que observo em Lisboa passa-se em quase todos os países da América Latina, especialmente no meu país, a Colômbia." Depressão, gentrificação, elitização residencial, segregação geográfica e maior precariedade no trabalho são apenas alguns dos fenómenos que afectam directamente os retratados. O Observatório, que cumpre o décimo aniversário em 2017, pretende com a iniciativa colocar o tema da pobreza "na ordem do dia", torná-lo mais visível e incentivar os cidadãos a desempenhar um papel mais activo na sua erradicação. O trabalho do fotodocumentarista Marcelo Londoño tem enfoque "nos problemas e contradições [com] que a sociedade moderna e tecnológica se depara". A exposição Re-Flectere está patente até 15 de Maio.