Uma mãe, uma filha e o Zika

Em Abril de 2015 estava grávida e adoeceu com o vírus Zika. Em Agosto a sua filha nasceu com microcefalia. Gleyse espera respostas, mas diz que “precisa de acreditar que vai correr tudo bem”.

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Ao sétimo mês da gravidez, uma ecografia trouxe-lhe a má notícia: o crânio do seu bebé tinha parado de crescer. Agora que as palavras microcefalia e Zika se entranharam no seu quotidiano, Gleyse da Silva continua à espera de respostas. Tem 27 anos, trabalha numa portagem e mora no Recife – a cidade brasileira mais afectada por esta crise, que a Organização Mundial de Saúde já declarou emergência de saúde pública à escala internacional. Gleyse ficou assustada quando recebeu a notícia. “Nunca imaginei que a minha filha pudesse nascer com um problema. Tinha medo daquilo que ela teria de enfrentar.” Como muitas das pessoas naquela altura sabia muito pouco, o assunto nem sequer era abordado à sua volta. Fez pesquisas online mas só depois do nascimento de Maria Giovanna começou a perceber melhor aquilo porque estava a passar. Mesmo hoje assume ficar confusa com muitas das informações. Encontrou num grupo de mensagens, partilhado com outras mães em situação idêntica, o apoio e os esclarecimentos que muitas vezes lhe faltam. Ainda sem essas respostas, e à espera dos resultados dos exames e análises feitos à filha, Gleyse abraça Maria Giovanna. Poucas vezes a larga durante o dia. Acha que é um factor comum às mães cujos filhos nasceram com microcefalia. “Mãe e filho estão sempre ligados”, afirmou em entrevista à Reuters. Ainda que a ligação entre a microcefalia e o vírus Zika não tenha sido absolutamente confirmada, esta é considerada altamente provável. A microcefalia pode resultar em lesões cerebrais, de maior ou menor gravidade. Como acontece com milhares de outras crianças, o futuro de Maria Giovanna é incerto. Gleyse só espera que a filha não sofra consequências graves. Quer acreditar que vai crescer bem, ser capaz de andar e de falar, conseguir brincar com outras crianças. Mesmo à espera de respostas diz que não consegue acreditar quando os médicos lhe dizem que ela não vai conseguir andar. “Preciso de acreditar que tudo vai correr bem”.