Portugal vai receber 6,2 milhões de euros de seguro das jóias da coroa roubadas

O Ministério
da Cultura diz que ainda não foi "oficialmente informado"

O Estado português deverá receber dentro de "um, dois meses" os 6,2 milhões de euros do seguro das jóias da coroa portuguesas roubadas em 2002 do Museon Haia, na Holanda, anunciou ontem a Câmara Municipal de Haia, citada pela AFP.A investigação policial chegou ao fim em Dezembro sem quaisquer resultados e a cidade de Haia "não quer mais hesitações neste assunto", disse ontem ao PÚBLICO Koost Maarleveld, porta voz de Elsa van Dyck, responsável pela Cultura na municipalidade.
A própria municipalidade não estaria, à partida, envolvida nesta questão, mas optou por substituir o Museon Haia nas suas responsabilidades jurídicas por o museu não ter fundos para cobrir os 1,3 milhões de euros que lhe correspondem no total do seguro. Ainda segundo Maarleveld, Elsa van Dyck vai agora reunir com a pool de seis seguradoras a quem correspondem os restantes 80 por cento.
"O museu não tem este dinheiro e talvez pudesse passar dez anos com uma batalha em tribunal, mas Elsa van Dyck não quer tomar esse risco. Diz que o Estado português não será a vítima da situação", explica Maarleveld.
O próprio Estado português era ontem mais cauteloso. Ao PÚBLICO, a nova ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, disse que o ministério não estava ainda "oficialmente informado" de nenhuma decisão e que o processo negocial "ainda está em curso". Mas disse também que a última versão do mesmo processo é, de facto, aquela que agências de informação internacionais foram difundido ontem ao longo do dia, apontando para que Portugal receba a totalidade do seguro.
"Há um acordo de o Estado português ser ressarcido em 100 por cento do que tinha reclamado, os 6,2 milhões de euros, mas há ainda pormenores em negociação", disse a ministra.
João Rodeia, presidente do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), organismo que tutela o Palácio Nacional da Ajuda - a cujo museu pertenciam as jóias - diz que essas negociações se prendem a "questões de ordem técnica". Questões como o que fazer no caso de alguma das jóias ser recuperada - uma possibilidade "remota", na opinião deste responsável.
Ainda não está também acordado qual o destino deste dinheiro. O Ministério da Cultura e o Ippar deverão negociar com o Ministério das Finanças qual o destino a dar-lhe, disse ainda Rodeia.
Emprestadas para a exposição didáctica Diamante: da Pedra Bruta à Jóia, as seis peças da jóia da coroa portuguesa eram as mais valiosas das 50, de vários países, roubadas na madrugada de 2 de Dezembro. Entre elas estavam vários dos mais importantes objectos de joalharia que testemunham a soberania nacional, um conjunto composto por 40 items. É o caso do castão de bengala que pertenceu a D. José I, feito em ouro cinzelado, com 387 brilhantes e tido com um exemplo raro da joalharia de corte francesa do século XVII. Depois, havia ainda dois alfinetes em forma de trevo de Maria Pia, uma gargatilha com 35 brilhantes e um diamante bruto de 150 quilates.
Imediatamente após o roubo, vários responsáveis de instituições museológicas consideraram o empréstimo desadequado, devido ao carácter didáctico da exposição. No rescaldo, outros especialistas consideraram irrisório o valor do seguro estipulado, face a uma perda patrimonial portuguesa que a recém-empossada ministra da Cultura assumiu ontem como "grave".

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