Frederico e Rodrigo criaram 14 murais em todo o país para celebrar os 50 anos do 25 de Abril

“Murais da Liberdade” é um “roteiro artístico nacional” que decora paredes em cidades de todo o país, com retratos do que aconteceu antes, durante e depois do 25 de Abril.

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"Manifestações Populares", Bragança Diogo Silva/dsmotionframes
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"Golpe das Caldas", Caldas da Rainha Diogo Silva/dsmotionframes
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"Lápis Azul Nunca Mais", São João da Madeira Diogo Silva/dsmotionframes
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Diogo Silva/dsmotionframes
,Instituto Camões - Centro Cultural da Embaixada de Portugal
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Parque de Serralves
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"Manifestações Populares", Bragança - pormenor Diogo Silva/dsmotionframes
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"Lápis Azul Nunca Mais", São João da Madeira - pormenor Diogo Silva/dsmotionframes
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Tudo começou com um desafio auto-imposto. A dupla Ruído – composta por Frederico Soares Campos, mais conhecido como Draw, e Rodrigo Guinea Gonçalves, ou Alma — queria pintar a liberdade em todo o país, decorando as cidades com murais que representassem episódios emblemáticos da Revolução. Do desafio resultaram 14 murais. E dois já foram inaugurados, um em São João da Madeira e outro em Bragança.

A ideia é criar um “roteiro artístico nacional” que conte visualmente episódios que aconteceram antes, durante e depois do 25 de Abril, contam ao P3.

Começaram a trabalhar nos primeiros esboços no ano passado e, assim que as peças se começaram a encaixar umas nas outras, a dupla apresentou a proposta ao Turismo de Portugal – conseguindo, desta forma, o apoio que precisavam para a concretizar. Mas tiveram de fazer escolhas e ser realistas: a ideia inicial era pintar 50 murais, mas rapidamente perceberam que seria “completamente impossível” — seriam precisas mais do que quatro mãos. Assim, decidiram ficar-se pelos 14 murais.

Esses murais vão aparecer em todas as regiões turísticas de Portugal — Norte, Centro, Alentejo, Lisboa e Vale do Tejo, Madeira e Açores — criando um projecto que “abraça Portugal inteiro, sob a alçada dos mesmos valores: democracia e liberdade”, explica Frederico.

O último passo era contactar as autarquias e “esperar pela parede certa”. “Há suportes de parede que são mais interessantes para nós”, explica o artista. E o que torna uma parede “trabalhável”? A textura, comprimento e largura.

Entre as obras que já podem ser visitadas está a de São João da Madeira, inspirados pela fábrica de lápis Viarco. E, claro, o tema está na cara – o lápis azul da censura. Por cima dos rabiscos azuis e do carimbo dos serviços de censura erguem-se recortes de papel, populares, faixas a chamar pela liberdade e o mítico lápis azul partido ao meio.

O próximo mural vai ser inaugurado em Vendas Novas.

Como decidir o que pintar?

Para decidir o que pintar (e onde), Frederico e Rodrigo contaram com a ajuda da Comissão 50 anos do 25 de Abril e dos próprios capitães de Abril. Foi neste trabalho conjunto que decidiram que “seria preciso trabalhar mais conceitos e temas do que propriamente pintar homenagens a uma ou duas personagens”, sublinhou Frederico.

À medida que “Murais de Liberdade” vai ganhando forma, Frederico e Rodrigo “vão aprendendo” e “descobrindo”, lado a lado com as comunidades locais, adaptando cada pintura à respectiva cidade. Esta é, aliás, é uma das regalias que o trabalho contínuo na rua traz, acreditam.

Por exemplo, numa das peças que ainda não foi inaugurada, nas Caldas da Rainha, está retratada uma das primeiras tentativas de derrubar a ditadura, a 16 de Março de 1974.

No portefólio estão ainda as manifestações estudantis, a “arte de protestos” escritos ou musicados, os símbolos que completam o quadro da Revolução dos Cravos e a imprensa clandestina à espera de ganhar vida nas ruas.

Foto
Frederico Draw e Rodrigo Alma Ruído/site

A conclusão do roteiro está prevista para o início de Outubro e o projecto ficará completamente finalizado assim que for publicado o livro que compila o registo dos 14 murais e as histórias que contam. Por enquanto, vão publicando cada mural nas redes sociais assim que fica pronto.

Cada um tem o seu estilo próprio, que aprenderam a conjugar em 13 anos de trabalho em conjunto. Frederico sempre trabalhou imagens figurativas e a figura humana; Rodrigo pinta texturas conjugadas com tipografia, figuras geométricas e texturas repletas de traços abstractos. Misturar estas duas linguagens nem sempre é fácil e é preciso encontrar um equilíbrio. Contudo, sabem que “funcionou” quando “as pessoas se questionam sobre o que é aquela pintura ou o que ela representa”, diz Frederico. “Quando as pessoas param e ficam a olhar para a obra a tentar decifrá-la, para nós, já funcionou.”

Os trabalhos da dupla, à parte do projecto em curso, estão espalhados em várias cidades do país e da Europa. Por enquanto podem ser vistas no Porto, Matosinhos, São João da Madeira, Figueiró dos Vinhos, Guimarães, Benfica do Ribatejo, Covilhã, Serpa, Marinha Grande, Portalegre, Estoril, Ansião, Rio Tinto, Bélgica, Espanha e Itália.

Texto editado por Inês Chaíça

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