O cante alentejano e o jazz dão as mãos no mais recente álbum de Carlos Martins, Vagar

Chegou esta quinta-feira às lojas o mais recente trabalho discográfico de Carlos Martins, que já havia sido pré-anunciado com um videoclipe (realizado por João Pedro Moreira) que lhe desvenda o propósito: cruzar o cante alentejano e a música improvisada, em particular o jazz. Lançado agora em CD, é apresentado ao vivo no dia 17 de Maio, às 21h, no CCB, em Lisboa.

Vagar, o disco, é explicado deste modo por Carlos Martins no texto que faz a sua apresentação: “A música de Vagar, o vagar difícil de traduzir tal como a saudade, foi escrita como um ecossistema criado de raiz que se inspira na cultura Mediterrânica para juntar o Cante a uma forma livre de compor e de improvisar. É uma conversa entre mundos para ajudar a reflectir sobre o que nos rodeia na luta pela preservação da Natureza cada vez mais em decadência, mais doente.” E é um trabalho colectivo, que reúne, além de Carlos Martins (sax tenor, composição e arranjos), “o escritor José Luís Peixoto, o fotógrafo José Manuel Rodrigues (Prémio Pessoa) e os cantadores Hugo Bentes e Pedro Calado, todos alentejanos”, estes últimos integrados no Grupo Procante, de que fazem também parte Francisco Pestana, Luís Aleixo, Carlos Franco Nobre, Moisés Moura, Luís Soares e Francisco Bentes. E, a par deles, os músicos Manuel Linhares (voz), Alexandre Frazão (bateria), Carlos Barretto (contrabaixo), João Bernardo (piano e sintetizador), Joana Guerra (violoncelo e efeitos) e Paulo Bernardino (clarinete baixo e efeitos). Como convidados, participaram também nas gravações André Fernandes (guitarra) e João Barradas (acordeão).

Apresentado como “contraproposta à velocidade que nos dias de hoje revela o mundo frenético e desalmado que estamos a viver”, o disco propõe, ainda segundo Carlos Martins, “uma pausa para a escuta, uma base para a tranquilidade, para respirar e para parar a estranha normalidade dos nossos dias. É também uma reflexão sobre o devir, como sempre foi o vagar alentejano, e é uma proposta alternativa ao papel da música na sociedade actual repensando o seu valor imaterial e espiritual.” Gravado em Novembro de 2023 no Estúdio Vale de Lobos (Sintra) e no Estúdio Musibéria (Serpa), o disco teve boa gestação, explica Carlos Martins: “Não foi simples este diálogo entre a tradição e o risco, mas foi muito generoso. Todos nos juntámos à volta da ancestral fogueira da tradição oral, como acontece na improvisação, para depois explorar novos caminhos. Vagar é o meu primeiro disco em que todas as músicas são cantadas.”