Onda de protestos estudantis pela Palestina espalha-se por vários pontos do mundo

Seguindo o exemplo dos Estados Unidos, também no Reino Unido, França, Canadá e Austrália foram montados acampamentos em várias universidades.

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Manifestantes foram retirados da Sciences Po de Paris pela polícia francesa, nesta sexta-feira Benoit Tessier / REUTERS
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Os protestos estudantis de ocupação de universidades em favor da causa palestiniana, que levaram a intervenções policiais em várias universidades dos Estados Unidos, começam a ter repercussão e a inspirar movimentos semelhantes no Canadá, na Austrália e em países europeus.

Nos EUA, os maiores protestos realizaram-se com a ocupação estudantil dos campi da Universidade de Columbia, no estado de Nova Iorque, e da Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles. A intervenção policial para desmantelar o acampamento e a ocupação de edifícios pelos estudantes e outros elementos da comunidade académica, incluindo professores, levaram, no total, à detenção de mais de duas mil pessoas, segundo noticia o jornal inglês The Guardian, citando informações da Associated Press.

No Canadá, o apelo lançado pelos ocupantes dos EUA chegou à Universidade de McGill, na província do Quebeque, onde os estudantes montaram cerca de sete dezenas de tendas dentro do campus, junto à entrada principal, e à Universidade de Toronto, onde foi instalado um acampamento com meia centena de tendas.

Na quinta-feira, um porta-voz do líder do governo provincial do Quebeque, François Legault, afirmou que pretendia retirar as tendas do espaço da universidade de McGill. "Queremos que o acampamento seja desmantelado. Confiamos na polícia, deixem-na fazer o seu trabalho”, afirmou, citado pela agência Reuters.

À estação de televisão pan-árabe Al-Jazeera, uma estudante presente nos protestos no Quebeque, identificada como Farrah, de 21 anos, acredita que o seu protesto não é solitário.

"Podemos ser apenas um grupo de pessoas, mas sabemos que temos apoio e que estamos a participar num movimento que está espalhado por todo o mundo. Não somos os únicos a lutar pelo que está certo", afirmou a estudante, acrescentando: "Estes acampamentos estão por todo o lado."

A onda de protestos estudantis pró-Palestina chegou também à Europa. Na universidade francesa Sciences Po de Paris (Instituto de Estudos Políticos de Paris), a polícia decidiu retirar nesta sexta-feira dezenas de manifestantes que ocuparam os edifícios principais da universidade, a exemplo do que ocorreu também na Sorbonne, onde as autoridades desmantelaram um protesto na segunda-feira.

“A firmeza é e continuará a ser total”, afirmou nesta sexta-feira o gabinete do primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, sobre as ocupações, acrescentando que “algumas foram resolvidas através do diálogo”, outras com uma “atitude firme”, tendo sido evacuados 23 estabelecimentos. A líder do governo da região de Paris, Valérie Pecresse, tinha afirmado na segunda-feira que iria suspender o financiamento da Sciences Po enquanto durassem as ocupações, que considera terem sido feitas por “uma minoria de pessoas radicalizadas que apelam ao ódio anti-semita, instrumentalizadas pela LFI (França Insubmissa, partido de esquerda que apoiou os manifestantes) e pelos seus aliados islamo-esquerdistas”.

No Reino Unido, o primeiro-ministro Rishi Sunak defendeu uma posição semelhante à sua contraparte francesa face aos protestos que chegaram também a várias universidades britânicas. Segundo o The Guardian, novos acampamentos de estudantes espalharam-se por várias universidades do Reino Unido, em Manchester, Sheffield, Bristol e Newcastle.

Apesar de a ala juvenil do movimento britânico Palestine Solidarity Campaign frisar que os protestos são “completamente pacíficos”, o gabinete de Sunak, citado pelo The Guardian, sublinhou que as autoridades policiais “dispõem de amplos poderes em matéria de ordem pública para combater a desordem nos protestos e continuarão a ter todo o apoio para o fazer, se necessário”, afirmando não tolerar “qualquer anti-semitismo”.

Um dos estudantes presentes no acampamento na Universidade de Sheffield, citado também pelo The Guardian, referiu que “alguns dos activistas mais dedicados são estudantes judeus”.

“Somos um movimento fundamentalmente anti-racista. A luta contra o anti-semitismo é parte integrante da luta contra o racismo”, acrescentou.

A onda de protestos chegou também à Austrália. Vários acampamentos, envolvendo várias dezenas de estudantes, foram instalados nas universidades de Sydney, Melbourne, Brisbane e Perth.

No entanto, apesar de apelos realizados por associações judaicas de estudantes, o Grupo dos Oito, que reúne as lideranças das maiores universidades australianas, recusou chamar a polícia para intervir, segundo a edição australiana do The Guardian.

O vice-chanceler da Universidade de Sydney, Mark Scott, afirmou, num post na rede social Linkedin, “não estar convencido” de que o que está a acontecer nas universidades norte-americanas “demonstre uma via para uma maior segurança e protecção para qualquer estudante ou pessoal, nem ajude a construir uma comunidade empenhada na liberdade de expressão e no intercâmbio ponderado de pontos de vista divergentes”.

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