Adoptar corais? Sim, para ajudar centro de investigação da Universidade do Algarve

Espécimes capturados acidentalmente nas redes de pesca são recolhidos e podem depois ser adoptados. Dinheiro reverte a favor da investigação de corais na costa portuguesa.

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Adopção de corais ajuda a financiar investigação Reuters/Alexandre Meneghini
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A adopção de um coral para ajudar a financiar a sua investigação na costa portuguesa é o objectivo do programa Plant a Coral, criado por uma equipa do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), disse à Lusa o coordenador. Segundo o investigador Márcio Coelho, coordenador do projecto que co-fundou em 2021, no final de um programa de investigação do CCMAR, da Universidade do Algarve, dedicado aos corais, os espécimes capturados acidentalmente nas redes de pesca são recolhidos e podem depois ser adoptados.

"O objectivo do programa assenta em dois pilares, um de literacia sobre os oceanos, neste caso sobre habitats formados por corais em Portugal, que procura melhorar a percepção do público sobre a existência, função e importância destes habitats e, no fundo, também divulgar um pouco a investigação que temos vindo a fazer no CCMAR", afirmou.

Márcio Coelho adiantou que outra componente passa pela colaboração com pescadores locais "no resgate de organismos, para fazer investigação em várias frentes", como o restauro de "habitats", resgatando os corais que são capturados acidentalmente e transportando-os de volta ao ambiente marinho.

Até agora, o trabalho efectuado pelo CCMAR para aumentar o conhecimento científico sobre os corais existentes na costa portuguesa tem incidido sobretudo nas zonas de Sagres e Albufeira, mas há "o intuito de o expandir" para outras regiões, como a de Cascais, exemplificou, sublinhando que os corais não existem apenas em águas cálidas, como se costuma pensar.

"É uma percepção errada e é uma percepção que nós estamos a tentar mudar, criando essa consciência de que habitats de corais existem por todo o mundo. A maior parte das espécies de corais não são tropicais, são de águas frias, águas temperadas, são de profundidade", esclareceu.

Arrábida, Cabo Espichel e Sines são também zonas onde existem corais, que beneficiam de zonas rochosas e "têm um papel igual ao das plantas no ambiente terrestre", ajudando à captura de carbono e formando "autênticas florestas marinhas" que favorecem a "colonização de muitos outros organismos", destacou.

Márcio Coelho precisou que "muitas espécies exploradas comercialmente vivem associadas a estes habitats", para alimentação ou para protecção na fase juvenil, mas os recifes ou jardins de corais têm também uma "função de regulação".

Essa função existe porque são "organismos que estão a filtrar a coluna de água, alimentar-se de plâncton e, portanto, participam activamente em vários dos ciclos de carbono de azoto", esclareceu.

O trabalho efectuado pela equipa do CCMAR com os corais tem tentado, através da colaboração com os pescadores na recuperação de espécimes capturados, "mapear a diversidade" e "identificar hotspots" [pontos quentes, em inglês] de diversidade que possam vir a ser considerados para estatuto de protecção", destacou.

Por outro lado, os investigadores trabalham para caracterizar a diversidade genética, fazem estudos de tolerância térmica e de biologia reprodutiva, passo que é importante para o restauro de "habitats" e para o qual precisam de financiamento, tendo criado o programa de adopção de corais Plant a Coral.

"O objectivo é tentar resgatar o máximo de corais possíveis com a colaboração dos pescadores e oferecê-los para adopção. Portanto, as pessoas podem adoptar os corais que nós resgatamos e transplantamos e esse dinheiro é depois utilizado para financiar projectos", realçou Márcio Coelho, sublinhando a importância do mecenato no financiamento de projectos.

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