O FC Porto não ataca nem defende pior, mas os seus atacantes e defensores sim

Sérgio Conceição falou de falta de eficácia a atacar e de falta de atitude a defender. O técnico portista tem razão? Talvez só em parte.

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Sérgio Conceição, treinador do FC Porto LUSA/ESTELA SILVA
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Quando querem retirar peso a resultados negativos, os treinadores de futebol falam frequentemente de “olhar não apenas para a árvore, mas também para a floresta”, argumentando que há factores não negligenciáveis, pedindo que se vá além da crueldade do resultado. No FC Porto, talvez o importante seja, nesta fase, olhar em sentido oposto, valorizando mais a árvore do que a floresta – porque há factores individuais, na defesa e no ataque, que parecem mais prementes do que os colectivos.

Depois de mais pontos perdidos na I Liga, Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, apontou que a equipa tem sido perdulária, já que desperdiçou “alguns pontos esta época dentro deste filme: muitas ocasiões e golos falhados”. E acrescentou também que tem sido pouco intensa sem bola, apontando que “é preciso não andar de pantufas a jogar futebol, mas de pitões de alumínio e com a atitude necessária para se ganhar jogos”.

Tem razão? Em parte, sim. Mas não em tudo – ou pelo menos não pelos preceitos que traçou. Cruzando dados do Fotmob, Who Scored e Transfermarkt, é possível analisar que o FC Porto, tal como sugeriu o seu treinador, tem finalizado mal as oportunidades que cria.

Apesar dos pontos perdidos frente a Gil Vicente e Arouca, a equipa não teve um valor de golos esperados (xG) abaixo do que tinha tido em partidas anteriores que tinha vencido. Manteve também o número de grandes oportunidades de golo e até aumentou o valor de passes no meio-campo adversário e na área adversária.

Em suma, o FC Porto não criou menos nem pior futebol do que noutros jogos em que foi feliz, mas finalizou bastante pior aquilo que conseguiu criar – o que vai ao encontro da tese de Conceição.

Há até um dado bastante contundente sobre a percentagem de conversão em golo dos remates feitos à baliza. Em 2023/24, a equipa portista leva 7,6%, bem longe dos 11% do Benfica e 12% do Sporting, apesar de ter valor de remates semelhante. Esses 7,6% são também uma descida brutal relativamente aos valores habituais na “Era Conceição” – sempre percentagens acima dos 10% e grande parte delas acima até dos 16%.

Quando mudou do 4x4x2 para 4x3x3, a equipa pareceu estar a criar condições para defender e atacar melhor, mas tem-se verificado, agora, uma componente individual associada à perda de pontos. Mais do que a “floresta” geral da equipa, importa olhar para a “árvore” particular dos jogadores que finalizam pior do que noutros anos.

É fácil de corrigir, bastando esperar que os jogadores regressem aos seus valores normais de eficácia? Talvez. Mas com nove pontos de atraso para um rival e sete para outro, a melhoria da finalização não vai garantir o que quer que seja.

Wendell à deriva

No que Conceição não parece ter razão é no capítulo defensivo. É habitual os treinadores esconderem-se no subterfúgio comunicacional de falar de falta de atitude, para evitar detalhar falhas colectivas – que daria trunfos aos adversários – ou individuais – que atiraria jogadores para “debaixo do autocarro”.

Mas não parece haver uma componente de atitude nos problemas da equipa. Nos últimos jogos, o valor de duelos ganhos caiu sempre a favor do FC Porto. A única excepção foi a partida com o Sp. Braga – e o FC Porto até ganhou esse jogo. Também o número de bolas recuperadas tem sido constante, bem como os remates permitidos aos adversários.

Qual é, então, o problema? Uma vez mais, a árvore – e não a floresta. Frente ao Gil Vicente e Arouca, o FC Porto sofreu quatro golos. Em todos eles houve falhas individuais claras.

Um penálti escusado cometido por Pepe e, nos outros três, erros na conta pessoal de Wendell. O jogador brasileiro saiu avidamente na pressão frente ao Arouca, deixando o lado esquerdo desprotegido num momento em que a equipa não estava preparada para essa pressão individual – foi por aí o golo. Depois, no mesmo jogo, “adormeceu” num livre a favor do Arouca, deixando novamente o seu lado exposto para mais um golo criado.

Frente ao Gil Vicente, com culpas repartidas com Diogo Costa, o lateral brasileiro conseguiu correr largos metros sem olhar uma única vez para o atacante das suas costas – viu apenas o mais próximo de si, mas foi outro, mais aberto, que acabou por lhe surgir de surpresa pelas costas, finalizando ao segundo poste.

Em resumo, mesmo que a Conceição seja mais confortável individualizar falhas na finalização do que defensivas, parece haver um considerável peso individual nos insucessos recentes do FC Porto – a atacar e a defender –, mais do que a incapacidade colectiva de jogar bem em qualquer dos momentos do jogo.

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