Perfect Days e as pequenas alegrias da vida

O filme mais recente de Wim Wenders, indicado para o Óscar de Melhor Filme Internacional, segue Hirayama e o seu dia-a-dia a limpar casas de banho pelas ruas de Tóquio. Mas vai além disto.

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Ao longo do filme seguimos a normalidade da rotina de Hirayama, interpretado pelo ator Koji Yakusho, um homem de poucas palavras e empenhado no seu trabalho como empregado de limpeza de casas de banho públicas. Para além disso, dedica o seu tempo livre à sua paixão pela música (que inclui a icónica canção de Lou Reed, Perfect Day) e aos seus livros, que lê todas as noites antes de adormecer. Acorda e entra mais uma vez na sua vida rotineira.

Esta ideia parece algo repetitiva para uma produção de duas horas. De algum modo até estranha, considerando o título do filme. Não acontece muita coisa, mas essa é a beleza desta obra. Assim que a rotina do protagonista é estabelecida, são gradualmente revelados elementos mais dramáticos, como a visita inesperada da sobrinha de Hirayama, que decidiu fugir da casa dos seus pais, e vai lentamente sendo abordada a mensagem deste trabalho de Wenders.

Ao longo do filme o espectador é “convidado a participar” numa reflexão profunda sobre a vulnerabilidade da vida, e sobre a apreciação dos pequenos e autênticos momentos do quotidiano em que encontramos alegria. O prazer de ler um bom livro, observar a forma como as sombras dançam, ou ver o nascer do sol enquanto ouve as suas músicas favoritas, mostrando como a tarefa mais mundana pode parecer significativa e valiosa. O filme é uma ode à simplicidade da vida, explorando a suave beleza que pauta uma vida humilde.

Perfect Days capta duas semanas na vida de alguém que tem uma profissão aparentemente aborrecida, de certa forma até simples, mostrando ao mesmo tempo o contentamento com o seu estilo de vida e a felicidade que encontra nos pequenos momentos. Uma obra pautada por um tom realista e discreto, que retrata as diferentes nuances de um homem satisfeito com a sua existência simples.

Um destaque vai para a atuação de Kõji Yakusho, pelas suas expressões faciais e, sobretudo, pelas emoções carregadas no seu olhar. Apesar de raramente falar, faz um bom trabalho ao criar uma personagem cativante que realmente vive no momento, sem ser uma espécie de guru espiritual. O seu trabalho foi reconhecido no Festival de Cannes, onde recebeu o Prémio de Melhor Ator.

Apesar do título deste filme, a verdade é que na vida não há só dias perfeitos. Até podemos questionar se há algo como um dia verdadeiramente perfeito. É desta maneira que o filme nos convida a pensar no que consiste a ideia de um “dia perfeito” para cada um de nós. Talvez seja uma questão da nossa própria perspetiva, e a forma como decidimos encarar aquilo que nos acontece, seja bom ou mau, simples ou complexo.

Esta obra cinematográfica serve para nos lembrar que há muito de belo para apreciar nas rotinas do nosso dia, mesmo que pequeno. É um filme que retrata a importância de saber estar presente no momento, e como é importante apreciar as pequenas alegrias da vida.

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