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Os três dias mais belos de Basileia (ou o Carnaval visto por um português)

Filipe Carvalho aterrou na cidade suíça na véspera do Carnaval, que é Património UNESCO, mas que prefere ser tratado por Fasnacht.

 

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E se de repente um português chegasse a Basileia na véspera da Fasnacht? O rufar dos tambores e o silvar dos pífaros, instrumentos musicais únicos, trupes de artistas, caras distorcidas, narinas exageradas e bocas retorcidas, cortejos, fanfarras e mais fanfarras a encherem as artérias da cidade, transformada numa espécie de revista satírica onde se ridicularizam vícios e se exorcizam defeitos. "Por incrível que pareça nenhum dos três dias é feriado", comenta à Fugas Filipe Carvalho, que voou desde o Porto no domingo rumo a Basileia, onde ficará a trabalhar uma temporada. "O chão transforma-se num mar de confetes ao ponto de não conseguirmos ver o alcatrão."

Em 2017, a UNESCO inscreveu este Carnaval na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade — algo que na Suíça inteira só acontecia com a Fête des Vignerons (Festa dos Viticultores, da pacata Vevey — por esta festividade revelar tanto da identidade da cidade e das suas energias criativas. "Esse foi o meu primeiro erro, chamar-lhe Carnaval. No segundo dia encontrei-me com um colega de trabalho português e a namorada suíça. Só então percebi que os locais ficam chateados por chamarmos à festa Carnaval. É a Fasnacht!"

A animação começa na segunda-feira antes da quarta-feira de cinzas precisamente às 4h — em total escuridão e com as quatro badaladas, o Morgestraich transforma o centro da cidade num mar de lanternas pintadas à mão — e dura exactamente 72 horas, terminando na manhã de quinta-feira às 4h com o Ändstraich. Esta "maratona" é muitas vezes referida como "drey scheenschte daag", ou seja "os três dias mais belos", três dias em que a cidade se transfigura. 

De máquina fotográfica em riste, Filipe, autor do melhor Travel Book de 2023 pela VERde Novo, vagueou sempre de madrugada antes de se sentar no escritório. "No primeiro dia cheguei a casa coberto de räppli (confetes) que me foram atirando. Percebi depois que quem não tem o blaggedde (crachá) é cravejado de papelinhos. "O que mais me impressionou foi o facto de aparecerem pessoas de todas as direcções. Parei num cruzamento e vinha gente literalmente de todos os lados. Tentei caminhar por ruas mais calmas e aparecia sempre alguém".

"Por baixo das máscaras", comenta Filipe (@fgram77), "todos são silenciosos e mantêm o anonimato. Ninguém fala. E apenas consegues adivinhar se é homem ou mulher pelas mãos."