Segóvia, uma pérola de Espanha

A leitora Maria Goreti Catorze encantou-se com a cidade a curta distância de Madrid.

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Segóvia MARIA GORETI CATORZE
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Apanho o comboio para Segóvia na estação de Chamartín, Madrid. Madrid tem três grandes estações ferroviárias: Atocha, Príncipe Pío e Chamartín. São todas excelentes tanto na arquitectura como na oferta. Dali partem comboios para as cercanias (os arredores), as grandes cidades de Espanha e o resto da Europa. Não para Portugal. Uma viagem de comboio Madrid-Lisboa demora 16 horas após inúmeros transbordos. Por comparação, de Madrid a Paris são dez horas e meia com um único transbordo (sendo que a distância é duas vezes maior para a capital francesa).

A viagem de Madrid a Segóvia é rápida. Em meia hora chega-se ao destino. Aos meus olhos a paisagem é belíssima: planícies e colinas amarelas (estamos em Junho) com algumas árvores de montado, pinheiros mansos, oliveiras e azinheiras. Não vislumbro casario disperso como em Portugal. As casas concentram-se nos pueblos: aldeias, vilas ou cidades. O cenário lembra o Norte de África. Não admira que os árabes se sentissem tão bem na península Ibérica. Ultimamente fala-se pouco desta unidade geográfica, tão do agrado do Nobel Saramago que lhe dedicou A Jangada de Pedra.

São 9h, caminho a pé até à vila. A temperatura é mais baixa do que em Madrid: menos cinco graus e uma brisa refrescante.

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Segóvia Maria Goretti Qatorze

Atravesso a muralha do lado de baixo da judiaria. Começo por visitar o centro de interpretação judaico, uma agradável surpresa. Depois entro na catedral (todas as cidades de Espanha têm uma imponente catedral) e junto-me ao grupo da visita guiada. Confesso que não sou apreciadora de visitas guiadas, frequentemente demoradas e fastidiosas, cheias de historietas fait divers como se os turistas fossem crianças a precisar de entretenimento. Esta foi especialmente maçadora, mas não tenho outra opção para subir ao terraço da torre e alongar o olhar pelo magnífico planalto de Castela e Leão.

Sigo para o alcazar, que na verdade é um baluarte renascentista construído no local onde existiu o antigo alcazar. Tem uma torre central com algumas semelhanças com a nossa Torre de Belém, mas circundada por torres de cúpulas pretas piramidais e cónicas que lembram palácios de contos de fadas. Lá ao fundo uma estrada sem vestígios de sombra serpenteia por entre conventos e igrejas de pedra. Gostava de percorrê-la, mas não arrisco enfrentar a canícula do meio-dia.

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Do lado de baixo da muralha (para oeste) corre o vale dos suspiros, uma mata verdejante atravessada pelo ribeiro dos suspiros (em castelhano diz-se clamores). Afasto-me em direcção à praça maior, onde há bandas a tocar no coreto num clima de festa. Sendo dia de São Pedro, uma espécie de feriado municipal em Segóvia, vários museus estão fechados. Nada é perfeito para quem vem assim de longe, sujeito aos caprichos do acaso.

Às três da tarde o calor torna-se sufocante. Sem o abrigo dos museus encaminho-me para a saída pelo lado oposto ao da chegada. Passo numa rua que tem uma "casa dos bicos", cópia da lisboeta onde agora está sediada a Fundação José Saramago. Há sempre analogias entre um lado e o outro nestas deambulações pelo mundo. É então que sinto um baque no coração: inesperadamente, sou surpreendida pela vista grandiosa do aqueduto romano. Ergue-se no vazio, altíssimo, sobrevoado por bandos de andorinhas irrequietas. Afinal, o melhor estava guardado para o fim. Continuo a pé até à estação. Já sou uma pessoa diferente da que chegou, levo comigo aquela visão do aqueduto do velho império que agora é poiso de andorinhas e de olhares sonhadores.

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Segóvia Maria Goretti Catorze

Enquanto espero pelo comboio vou contemplando os campos, os rebanhos e a serra de Guadarrama ao longe. Segóvia é mais uma pérola valiosa de Espanha.

Maria Goreti Catorze (texto e fotos)

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