Não só há mais actores brancos nos cartazes dos filmes como as suas caras são maiores

Estudo revela que representação de outras etnias em posters de filmes norte-americanos aumentou nos últimos 20 anos e está perto de reflectir a demografia do país. Mas prevalecem os estereótipos.

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Os cartazes de cinema começam a espelhar mais fielmente a composição étnica da sociedade norte-americana DR
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Apesar de haver cada vez mais actores não-brancos nos cartazes promocionais dos filmes de língua inglesa e produzidos nos Estados Unidos, a esmagadora maioria dos rostos escolhidos para estes suportes promocionais (uns inequívocos 77% na última década) é ainda caucasiana, revela um estudo publicado na revista científica Humanities and Social Sciences Communications. Entre 1960 e 2020, cresceu em 16% a representação de outras etnias nestes posters, mas o rosto dos intérpretes brancos tende a ser mais central e 25% maior do que o dos seus colegas não-brancos; estes tendem por sua vez a aparecer mais quando os cartazes abarcam mais de seis personagens, ou, claro, quando se trata de filmes cujo protagonista não é branco.

“Os cartazes têm como objectivo fixar a primeira impressão do espectador”, contextualizam os autores de Ethnic representation analysis of commercial movie posters, que analisa o enviesamento étnico nestes suportes de grande visibilidade. Assinado por Galit Fuhrmann Alpert e Michael Fire, da Universidade Ben-Gurion do Negev, sediada em Bersheeba, Israel, com a colaboração de Mor Levy e Dima Kagan, o estudo conclui que “a distribuição étnica de personagens nos cartazes nos últimos anos está a atingir números que se aproximam da real composição étnica da população norte-americana”.

Nos últimos dois anos, afunilam, os cartazes "estão perfeitamente equilibrados” com a demografia do país, onde os não-brancos representam 37% da população (mas 46% do público pagante das salas de cinema), o que “sugere que a indústria cinematográfica está a tentar activamente” ser mais paritária nessa frente.

O estudo tem por base a análise de mais de 125 mil cartazes relativos a 35 mil filmes com a ajuda de modelos de inteligência artificial, incluindo o FairFace, que recolheram imagens das bases de dados Internet Movie Database e The Movie Database, dividindo-as por quatro grupos étnicos (branco, negro, indiano ou asiático), subdivididos depois em categorias ainda mais finas.

Após esta primeira triagem, uma análise mais apertada seleccionou mais de 45 mil cartazes de 24 mil filmes para afinar resultados. O uso deste modelo permitiu ao estudo adquirir uma escala superior aos anteriormente realizados sobre o mesmo tema. Os autores apresentam-no como o primeiro a usar “visão computadorizada para analisar imagens de posters em termos de diversidade étnica”.

Em duas décadas, indica-se em Ethnic representation analysis of commercial movie posters, a representação de outras etnias melhorou — mas, considerado esse período (e não apenas os últimos dez anos), verifica-se que 79% dos protagonistas dos cartazes norte-americanos são brancos e que dos três principais rostos representados nestes posters só 9,2% pertencem a minorias.

Desde 2010, há um aumento constante da representação de actores negros (quase duplicaram a sua presença) e a representatividade do grupo “asiático” também tem crescido. Quanto mais pessoas num cartaz, mais hipóteses de as minorias étnicas dos Estados Unidos lá figurarem, nota ainda o estudo.

Os autores concluem também que a etnia da personagem principal afecta directamente a dos restantes actores que vão aparecer no cartaz. E não lhes escapa a nuance de que o domínio em Hollywood dos filmes de super-heróis e dos franchises com elencos vastos como Velocidade Furiosa favorece a existência de cartazes com mais protagonistas e mais etnias — abrigando os estúdios das críticas de falta de representatividade.

O estudo reitera tendências já documentadas por outras instituições, como a de que aos actores não-brancos são entregues sobretudo papéis de menor relevância, com menos falas, e directamente relacionados com a sua etnia.

Os actores negros aparecem mais em cartazes de filmes de crime, desporto, música ou acção e os actores asiáticos surgem mais em posters de filmes de acção, o que indicia a perpetuação ou o reforço de estereótipos. Os brancos dominam particularmente nos cartazes de film noir, nos westerns e no mistério. O documentário é o género onde existe maior diversidade.

A última década, marcada por mais discussão em torno da representatividade e por movimentos sociais como o Black Lives Matter, mas também pela aposta de Hollywood em mercados como a China, é aquela em que a mancha de diversidade é maior nos gráficos incluídos neste estudo.

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