Polícia britânica investiga violação virtual em grupo de jovem de 16 anos

Como os jogadores não tocaram directamente na vítima, a investigação de violação pode não originar qualquer acção penal. O ataque aconteceu durante um jogo da Meta que tenta simular a realidade.

Foto
A jovem estava a participar num jogo de realidade virtual quando foi atacada Unsplash

A rapariga de 16 anos estava a participar num jogo de realidade virtual quando a sua personagem foi atacada por um grupo de homens adultos no metaverso — um universo virtual, que tenta replicar/simular a realidade através de dispositivos digitais, onde os utilizadores interagem uns com os outros. De acordo com a informação partilhada pelas autoridades britânicas com o jornal Daily Mail, apesar de a jovem não ter sofrido danos físicos, o incidente provocou um grande impacto psicológico e emocional na vítima, tendo em conta que as experiências de realidade aumentada foram projectadas para serem completamente envolventes.

Crê-se que esta é a primeira vez que, no Reino Unido, a polícia investiga um caso de abuso sexual virtual. Ainda assim, as autoridades receiam não poder fazer justiça, visto que a definição de violação pressupõe toque físico sem consentimento e o alegado abuso realizou-se num espaço virtual, à distância. Este é também um dos motivos pelos quais a investigação também está a ser posta em causa, já que as autoridades estão a direccionar recursos para averiguarem estes casos, que podem não ter qualquer acção penal, em vez de reforçaram as investigações de violações que ocorrem no mundo real.

Apesar disso, o secretário de Estado para Assuntos Internos do Reino Unido, James Cleverly, em entrevista no programa Nick Ferrari at Breakfast, defendeu a realização de uma investigação. “Eu sei que é fácil descartar isto como sendo algo irreal, mas o objectivo destes ambientes virtuais é serem incrivelmente imersivos”, disse. Este incidente “terá tido um impacto psicológico muito significativo [na criança] e nós devíamos ser muito, muito cuidadosos ao descartarmos isto”, acrescentou. O secretário de estado explicou ainda que alguém que é capaz de violar um avatar de uma criança num jogo pode ser também capaz de “fazer coisas terríveis no mundo físico”.

O responsável pela protecção de crianças e investigação de abusos do Conselho Nacional de Chefes da Polícia do Reino Unido, Ian Critchley, em declarações ao Daily Mail, apontou a necessidade de as autoridades desenvolverem métodos de policiamento para crimes cometidos online e para a aprovação de “leis relevantes”, como a lei de segurança online, que pretende, por exemplo, impedir que crianças acedam a conteúdos prejudiciais. Ian Critchley chamou também a atenção para as empresas de tecnologia, que "têm de fazer mais para garantirem a segurança dos utilizadores".

Os últimos dados do Institution of Engineering and Technology, partilhados pelo canal de televisão britânico Sky News, mostram que, em 2022, cerca de 21% das crianças com idades compreendidas entre os cinco e os dez anos possuíam um headset óculos e auscultadores de realidade virtual e que 6% contactavam diariamente com este tipo de universo.

O Horizon Worlds tem sido um dos jogos online associados a vários relatos de abusos sexuais. O jogo é administrado pela Meta, empresa detentora do Facebook, Instagram e do WhatsApp. Um porta-voz da Meta disse ao Daily News que estes comportamentos “não têm lugar na plataforma” e que os utilizadores têm uma protecção automática que impede utilizadores desconhecidos de se aproximarem dos seus avatares.

Em 2022, a psicoterapeuta e investigadora Nina Jane Patel também foi atacada por um grupo enquanto jogava Horizon Worlds. “Três ou quatro homens atacaram-me ao mesmo tempo, assediando-me verbalmente e, depois, agredindo-me sexualmente. Quando tentei fugir, eles perseguiram-me”, lê-se na descrição que fez à jornalista Rosa Silverman, do Telegraph. “Embora eu estivesse fisicamente na minha sala de estar em Londres, a utilizar o headset e a ter uma experiência virtual, a minha resposta foi semelhante à que eu teria se tivesse sido atacada na rua”, partilhou.

Nina Jane Patel também se pronunciou em relação ao caso da jovem de 16 anos. “Embora tenha sido o avatar da criança – ou uma representação digital dela – que foi alegadamente violada em grupo, e apesar de não ter sofrido lesões físicas, isso não significa que [o ataque] não tenha causado imenso trauma e sofrimento”.

Texto editado por Renata Monteiro

Sugerir correcção
Ler 10 comentários