Activista LGBT+ do Uganda internado em estado grave depois de ter sido esfaqueado

Steven Kabuye foi encontrado por residentes locais, depois de ter sido esfaqueado por dois desconhecidos. O activista voltou ao Uganda em Dezembro, após um período de exílio no Quénia.

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O crime teve lugar na passada quarta-feira, dia 3 de Janeiro, nos arredores de Kampala, capital do Uganda Reuters/ABUBAKER LUBOWA
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Steven Kabuye, activista LGBT+ de 25 anos, estava a caminho do trabalho quando dois desconhecidos o esfaquearam. Ficou ferido no braço e na região do estômago – mas conseguiu proteger o pescoço, o que o salvou. O crime aconteceu na quarta-feira, nos arredores de Kampala, capital do Uganda.

Os dois atacantes seguiam de mota quando tentaram esfaquear o activista no pescoço, escreve a agência Associated Press. Num vídeo que circula no X (antigo Twitter), Kabuye aparece no chão, com uma ferida profunda no braço direito e uma faca ainda alojada na barriga. O jovem acabou por ser encontrado por residentes locais, já depois de os suspeitos terem fugido, e foi encaminhado para o hospital, onde ainda está internado em estado grave.

Numa entrevista citada pela Associated Press, conduzida a partir da cama do hospital, Kabuye disse acreditar que os atacantes não o queriam apenas ferir, mas matar. Revelou ainda que tem receio que consigam chegar até ele mesmo durante o internamento: “Não consigo confiar em ninguém”.

O activista acredita que o clima de intolerância está a ser usado pelos políticos que “estão a usar a comunidade LGBTQ+ como bode expiatório para distrair as pessoas do que está realmente a acontecer neste país”.

Não é a primeira vez que Kabuye é vítima do ódio popular. De acordo com o comunicado da polícia ugandesa, o jovem já havia recebido várias ameaças de morte, o que ditou o seu exílio no Quénia. Kabuye regressou ao Uganda a 15 de Dezembro.

O Uganda proíbe a homossexualidade ao abrigo de uma lei que criminaliza actos contrários à “ordem da natureza”. Contudo, desde Maio que o clima está cada vez mais difícil para os activistas pelos direitos humanos: a perseguição à comunidade LGBT+ aumentou desde que foi aprovada a última versão da lei anti-homossexualidade, que aumenta as punições e legitimou uma onda de abusos.

A lei aprovada em Maio – e que foi o resultado de uma discussão parlamentar que confundiu abusos sexuais de menores e relações homossexuais consensuais entre adultos – chega a prever prisão perpétua e a pena de morte para determinados actos sexuais (com pessoas portadoras de VIH, por exemplo).

Nesse mesmo mês, Steven Kabuye demonstrou preocupação face à lei que “viola os direitos humanos fundamentais e abre um precedente perigoso para a discriminação e perseguição da comunidade”. Contra “o fanatismo e o ódio”, o activista apelou à “solidariedade”.

Já o Presidente Yoweri Museveni nega os abusos, acusando o Ocidente de tentar normalizar a homossexualidade em África. De acordo com os dados da ILGA World, dos 62 países membros das Nações Unidas com leis que criminalizam os relacionamentos homossexuais, 32 estão em África, seguidos por 20 na Ásia, que incluem quase todos os países do Médio Oriente.

Texto editado por Inês Chaíça

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