Startup desenvolve analgésico para dor crónica a partir do mar algarvio

Depois de dez anos de investigação, empresa está a desenvolver primeiro analgésico marinho não opióide. Será eficaz no tratamento da dor crónica sem provocar dependência ou efeitos secundários.

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Sea4us está a desenvolver o primeiro analgésico marinho não opióide LUSA/LUÍS FORRA
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Sagres é o principal local de recolha de amostras marinhas, onde a Sea4Us tem nas suas instalações aparelhos para tratar as amostras LUSA/LUÍS FORRA
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A startup Sea4Us está próxima de realizar o licenciamento de um novo analgésico descoberto em organismos marinhos da costa algarvia, que poderá aliviar as dores crónicas de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.

Depois de mais de dez anos de investigação, esta empresa portuguesa da área da biotecnologia avançada, com sede em Sagres, em Vila do Bispo, não esconde a ambição de vender a descoberta a um dos "tubarões" da indústria farmacêutica mundial.

A dor crónica é uma doença que aflige uma em cinco pessoas em todo o mundo, proporção que, no entanto, é superior na população portuguesa, disse à agência Lusa Pedro Lima, investigador e director científico da Sea4Us.

Depois de mais de 10 anos de investigação, esta empresa portuguesa poderá colocar o seu medicamento em breve no mercado LUÍS FORRA
LUÍS FORRA
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Depois de mais de 10 anos de investigação, esta empresa portuguesa poderá colocar o seu medicamento em breve no mercado LUÍS FORRA

A empresa está a desenvolver o primeiro analgésico marinho não opióide que, se tudo correr como previsto, será eficaz no tratamento da dor crónica sem provocar dependência ou efeitos secundários, porque não afecta centralmente o cérebro, referiu.

"O que nós temos a ser desenvolvido é uma alternativa aos opióides, morfina e afins, que de facto aliviam a dor em muitos casos e outros não, mas têm efeitos secundários algumas vezes terríveis", esclareceu o neurofisiologista e biólogo marinho.

O muito provável futuro novo medicamento é possível graças às características particulares de organismos marinhos que evoluíram e estão incrustados nas rochas de grutas e cavidades da costa algarvia, perto de Sagres, no distrito de Faro.

A Lusa acompanhou uma das saídas, num semirrígido, a partir de Sagres, em que uma equipa da Sea4Us, liderada por Pedro Lima, mergulhou junto a uma falésia na costa sul do Algarve, entre o porto de pesca desta vila e a Ponta da Atalaia, para recolher esponjas e outros organismos marinhos das rochas.

"É nesses organismos, como estes que nós tirámos, que encontramos uma química que está para além do engenho humano. O engenho humano não consegue sintetizar estas formas que nós encontramos nestes animais. É este o nosso conceito", afirmou o responsável, depois de um mergulho que durou cerca de meia hora.

Recolha de esponjas e outros organismos marinhos das rochas LUÍS FORRA
As esponjas e outros organismos já prontos a transportar para o laboratório LUÍS FORRA
Recolha de esponjas e outros organismos marinhos das rochas LUÍS FORRA
Recolha de esponjas e outros organismos marinhos das rochas
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Recolha de esponjas e outros organismos marinhos das rochas LUÍS FORRA

Recolha de amostras marinhas

Sagres é o principal local de recolha de amostras marinhas, onde a Sea4Us tem nas suas instalações aparelhos para tratar as amostras, mas o desenvolvimento pré-clínico é realizado no Laboratório de Fisiologia da Universidade Nova de Lisboa.

A empresa também trabalha em rede com outras entidades, como a Universidade do Algarve e outras instituições de ensino na Europa, Estados Unidos e Japão, assim como empresas que desenvolvem as mais diversas substâncias.

A empresa está agora a fazer os testes que precedem os primeiros testes clínicos em humanos, e caso corra tudo como esperado, pode avançar-se para o licenciamento e as farmacêuticas poderão colocar o produto no mercado, o que pode demorar cerca de cinco anos.

A Sea4Us assume não ter o dinheiro necessário para realizar a totalidade dos testes em cobaias humanas e que gostaria de vender o seu projecto, daqui a cerca de um ano e meio, no início das experiências com pessoas.

Até agora, a empresa já investiu neste projecto, com a ajuda de fundos públicos, 1,5 a 02 milhões de euros, esperando continuar a investir noutros, alguns dos quais já iniciados, que permitirão permitir lutar contra doenças como a bexiga hiperactiva, a neuropatia induzida por quimioterapia ou a epilepsia.

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