Autarca de Matosinhos defende que “justiça era nunca ter sido constituída arguida”

“Senti muita solidariedade de todos os autarcas do país porque, naturalmente, toda a gente escolheu o seu ou a sua chefe de gabinete mediante um despacho, numa escolha pessoal”, disse

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LUSA/JOSÉ COELHO

A presidente da Câmara de Matosinhos e da Associação Nacional de Municípios Portugueses considerou este sábado que não foi feita justiça com o arquivamento do processo que a envolvia na Operação Teia, argumentando que "justiça era não ter sido constituída arguida".

"Não considero que, neste momento, tenha sido feita justiça, porque justiça era eu nunca ter sido constituída arguida num processo que envolve a forma como escolhi a minha chefe de gabinete", disse Luísa Salgueiro aos jornalistas.

A autarca falava aos jornalistas no conjunto habitacional de Custóias - Fundação Salazar, em Matosinhos, um dia depois de ser conhecido o arquivamento do processo que a envolvia na Operação Teia, na qual foi constituída arguida em Outubro de 2022.

"Senti muita solidariedade de todos os autarcas do país porque, naturalmente, toda a gente escolheu o seu ou a sua chefe de gabinete mediante um despacho, numa escolha pessoal", disse a também presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).

A autarca não chegou a ser acusada porque o Ministério Público decidiu pelo arquivamento ainda na fase de inquérito.

Luísa Salgueiro, eleita pelo PS, foi constituída arguida a 24 de Outubro de 2022 por suspeita de ter escolhido a sua anterior chefe de gabinete por nomeação, sem ter procedido à abertura de um concurso público.

Apesar de considerar que "não foi feita justiça", assinalou que o processo "terminou, quatro anos e meio depois de terem feito as buscas [na Câmara Municipal e apreendido telemóvel e copiado dados do computador] e um ano e pouco depois" da sua constituição como arguida.

"O que posso dizer é que é uma sensação de paz e serenidade que sempre tive, não tanto para mim, mas sobretudo para as pessoas que estão mais próximas de mim [...] que ficam muito afectadas", disse,

Luísa Salgueiro admitiu, contudo, que a sua imagem "fica beliscada", já que "o enxovalho e o dano reputacional é irrecuperável", reconhecendo ainda que o facto de ser presidente da ANMP lhe dá "mais visibilidade" e causa dano à associação.

"Nunca estive indiciada por corrupção, mas para as pessoas isto é uma nebulosa sempre muito parecida. Ficamos todos sob o mesmo manto, e isso é altamente perturbador para nós. Magoa", lamentou.

Questionada sobre se o Ministério Público (MP) deve explicações sobre este caso, que chegou a envolver a abertura de um processo de averiguações interno à conduta do MP (foi posteriormente arquivado), Luísa Salgueiro rejeitou, dizendo não se sentir "credora de nenhum esclarecimento especial".

A líder da ANMP disse ainda não compreender por que motivo foi constituída arguida, "por muito esforço que faça".

"Só lapsos muito grosseiros é que podem levar a que o processo tenha chegado a esta fase", considerou.

Rejeitando estabelecer paralelismos com a situação actual do país, Luísa Salgueiro disse que "num Estado democrático, a Justiça é um pilar essencial, e os cidadãos têm que ter confiança nos seus eleitos, nas pessoas que os representam, e também no poder judicial e no funcionamento da Justiça".

À data da constituição como arguida, Luísa Salgueiro disse que a sua implicação na "Operação Teia" seria "esclarecida rapidamente".

A autarquia esclareceu ainda, naquela altura, que a Polícia Judiciária (PJ) fez buscas à Câmara Municipal de Matosinhos no âmbito deste processo em Maio de 2019 e que nessa altura, e apenas nessa altura, foi apreendido o telemóvel de Luísa Salgueiro e copiado o conteúdo do seu computador.

Desde então, acrescentou a Câmara de Matosinhos, "não foi realizada qualquer outra diligência e Luísa Salgueiro nunca foi ouvida no âmbito deste processo".

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