Lisboa
Um apartamento japonês em Alvalade que se transforma ao longo da vida
Era um espaço tipicamente português que, durante anos, foi a moradia da avó de um dos arquitectos. Margarida Fonseca e Mário Serrano decidiram transformá-la para aí viverem e deram-lhe um toque japonês.
Nos anos 1970, as dimensões deste apartamento em Alvalade não eram nem de perto parecidas com as actuais. Mário Serrano, um dos arquitectos responsáveis pelo projecto, já conhecia a casa mesmo antes de começar, em 2021, as obras de reconstrução. O apartamento pertencia à avó de Margarida Fonseca, mulher de Mário e sócia do atelier Duoma. A casa era de arquitectura tipicamente portuguesa. Agora é local onde o casal planeia viver até ao fim da vida — e junta organização japonesa e decoração escandinava.
O plano para o Apartamento T era simples: fazer uma casa prática sem “espaços desperdiçados” como corredores e entradas a delimitar as divisões sociais. Por isso, a solução foi demolir paredes e deixar visível a viga e pilar em forma de T que, revela o arquitecto, deu nome ao projecto. “Nas renovações não dá para aumentar os metros quadrados, mas, visualmente a diferença é bastante grande. Entrámos na casa e encarámos aquele espaço todo como um só”, adianta Mário Serrano. A viga foi também descascada para deixar visível o betão, material que, apesar de “robusto”, foi cuidadosamente escolhido para contrastar com “a leveza da madeira”.
Neste caso, e apesar de distintos, o betão e a madeira são materiais que funcionam em conjunto. Na cofragem do pilar foram desenhados os veios característicos das madeiras e o tamanho das tábuas do pavimento foi escolhido de acordo com a largura da viga.
“A decisão de mudarmos a direcção do pavimento é inspirada na tradição japonesa da cerimónia do chá. Neste ritual, cada tapete tatami é atribuído a determinada pessoa e a redefinição de pavimentos serve para marcar cada um dos espaços sociais e dar-lhes funções específicas”, justifica o arquitecto.
Numa das pontas da sala, há uma estante que esconde uma divisão extra que se vai adaptando com o tempo. Neste momento, funciona como escritório, quarto de brincar, de hóspedes e sala de música. No futuro, será o quarto de um dos dois filhos do casal e, quando as crianças tiverem a sua própria casa, volta a ser parte integrante da sala.
A obra, que começou em 2021, ficou concluída no ano seguinte. A flexibilidade da casa é o detalhe que os arquitectos (e proprietários) mais destacam. No fundo, é um apartamento que vai sofrer adaptações ao longo da vida e que apostou em espaços multifuncionais para responder às necessidades de uma família.