Arquitetura

Em Miranda do Corvo, esta casa amarela vai levar música a toda a vila

A casa, que será inaugurada a 12 de Agosto, foi renovada para ser a nova sede da filarmónica de Miranda do Corvo. Salas de ensaios ou um auditório ao ar livre são alguns dos destaques.

Jorge Neves
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Jorge Neves

Era uma antiga casa senhorial, provavelmente a maior da vila de Miranda do Corvo, em Coimbra, que todos conheciam pelas imponentes paredes pintadas de amarelo. Com o tempo, tornou-se um lugar desabitado. Os anos abriram fendas nas paredes, que também foram perdendo a cor, e a vegetação cresceu até ficar da altura dos altos muros de pedra. Assim ficou até 2015, ano em que a câmara municipal decidiu comprar a propriedade para a transformar na nova sede da filarmónica de Miranda do Corvo.

“A primeira impressão foi muito forte”, recorda ao P3 Carlos Antunes, arquitecto responsável pelo projecto Casa Amarela em co-autoria com Desirée Pedro. Quando entrou, deparou-se com um espaço amuralhado que fazia lembrar os claustros de um mosteiro. Em frente estava a casa e o que restava do que pareciam ser anexos agrícolas.

A obra, que ficou concluída este ano, exigiu uma renovação total do espaço e, também, construções novas. Na casa principal, portas e portadas foram recuperadas e as paredes revestidas com espessos materiais que isolam o som, como é o caso da madeira que, neste caso, assume várias texturas para tornar o espaço mais interessante também do ponto de vista estético.

As salas de música foram construídas no local dos anexos. Todas elas, desde a sala de ensaios gerais às salas de aulas, estão propositadamente viradas para “o claustro”, explica o arquitecto do Atelier do Corvo, acrescentando que, para dar continuidade à atmosfera recatada, optou-se por plantar bambuzais no exterior. “Ficamos muito impressionados com esta possibilidade de construir o corpo novo em torno deste vazio que já existia. No fundo, é uma recriação de um grande implúvio romano [tanque rectangular situado no pátio das casas].”

E, tal como era comum na arquitectura romana, há um auditório ao ar livre pensado “para que os alunos possam tocar informalmente ou dar espectáculos”. No entanto, a principal sala de concertos é uma das mais imponentes, com uma iluminação vinda do exterior que rodeia o palco.

“As entradas de luz criam uma atmosfera misteriosa, com uma luz muito austera e mais densa nos cantos, em torno dos quais imaginámos que a música poderia ecoar”, justifica Carlos Antunes.

Depois de oito anos em reconstrução, a inauguração da Casa Amarela está marcada para 12 de Agosto com uma exposição sobre os edifícios construídos pelo atelier em Miranda do Corvo nos últimos 25 anos. E a poucos dias do final da obra, há uma novidade: além de ser o novo espaço da filarmónica, a antiga casa vai também funcionar como pólo do Conservatório de Coimbra.

“É interessante o facto de a arquitectura poder contribuir para que o interior deixe de ser um lugar deprimido e passe a ser de esperança. Que as pessoas percebem que também podem ter os espaços que admiram nos pequenos locais onde moram. Isso parece ser a coisa mais importante do papel dos arquitectos fora dos grandes centros”, conclui.

Jorge Neves
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