O que faria a Colômbia sem Linda Caicedo?

A avançada de 18 anos sofreu um colapso durante um treino, mas vai jogar contra com a Alemanha. Era só cansaço. Já enfrentou coisas bem piores, como um cancro.

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Linda Caicedo já marcou um golo no Mundial 2023 EPA/DAN HIMBRECHTS
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Há dois dias, durante um treino da Colômbia, Linda Caicedo, avançada de 18 anos, agarrou-se ao peito, parou de correr e caiu lentamente na relva, sem perder a consciência. Foi imediatamente socorrida pela equipa médica, mas tudo não passou de um grande susto. Era só cansaço, diriam mais tarde os responsáveis da selecção sul-americana, e Caicedo, estaria disponível para defrontar a Alemanha neste domingo. Mas não admira que ela esteja cansada. Desde 2022 que tem andado pelo mundo a jogar. Este já é o seu terceiro Mundial e, pelo meio, esteve em duas Copas América, tudo isto enquanto joga no Real Madrid. E como sobrevivente de um cancro.

Linda Caicedo já deixou a sua marca no Mundial, ao marcar um dos melhores golos do torneio, o segundo de um triunfo da Colômbia por 2-0 sobre a Coreia do Sul, num remate de fora da área – de belo efeito, mas com alguma “ajuda” da guarda-redes coreana.

Com 18 anos e 153 dias de idade, a colombiana tornou-se na segunda sul-americana mais jovem de sempre a marcar num Mundial, perdendo “apenas” para a brasileira Marta, que se estreou a marcar em Mundiais há duas décadas, com apenas 17 anos – e também foi à Coreia do Sul.

Caicedo ainda nem chegou às duas décadas de vida, mas já tem muito para contar. Nasceu numa família humilde em Cali e desde cedo que o futebol foi a sua paixão – e da irmã mais velha Kelly, defesa do Cruzeiro e também internacional, mas que não está no Mundial. Nesta paixão, os pais sempre estiveram do seu lado. “No instante em que lhes disse que queria ser futebolista, disseram logo que sim, e fomos logo à procura de um clube”, contava.

Aos 14 anos, já jogava na primeira equipa do América de Cali e era a idade que tinha quando fez os seus primeiros minutos pela selecção principal da Colômbia – três minutos em campo num particular com a Argentina em Novembro de 2019. Mas tudo ficou em suspenso no ano seguinte, não apenas pela pandemia de covid-19 que envolveu o mundo. A jovem começou a sentir dores no abdómen e os exames revelaram que tinha cancro nos ovários.

Duas semanas depois do diagnóstico, Linda foi operada e foi-lhe retirado um dos ovários, onde estava localizado o tumor, e seguiram-se seis meses de quimioterapia. Assim que foi dada como livre do cancro, regressou imediatamente ao futebol.

“Foi um processo muito difícil, mas, graças a Deus, consegui ultrapassar tudo. A minha família e o meu treinador sempre estiveram do meu lado. Quando fiz a cirurgia, achei que nunca mais iria jogar. Mas, agora, pelos tempos difíceis que passei, sinto que sou um exemplo para os outros”, disse.

Sem o cancro, a jovem colombiana estava livre para voltar a mostrar o seu enorme talento e mostrou-o um pouco por todo o mundo em 2022: Copa América sub-17 em Março, cinco golos marcados e vice-campeã; Copa América sénior e Julho, dois golos marcados e vice-campeã; Mundial sub-20 em Agosto, com dois golos marcados e chegada aos quartos-de-final; Mundial sub-17 em Outubro, quatro golos marcados e vice-campeã.

No início de 2023, a inevitável transferência para um “grande” do futebol europeu, o Real Madrid. E a meio de 2023, o primeiro Mundial sénior, onde é uma das “estrelas” e vai continuar a sê-lo. Porque era só cansaço.

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