Arda Güler, o prodígio da Ásia Menor que anima o futuro do Real Madrid

Vítor Pereira emancipou-o com 16 anos e Jorge Jesus deu-lhe a dimensão para suceder a Özil no Fenerbahçe. Agora só falta aceder à galeria de notáveis liderada por Cristiano Ronaldo.

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Arda Güler chega ao Real Madrid pronto a receber testemunho de Modric Reuters/JUAN MEDINA
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Apontado pelos especialistas como um verdadeiro prodígio, a grande promessa do futebol turco do século XXI, uma espécie de Messi da Ásia Menor, Arda Güler — não confundir com “O Olho de Istambul”, Ara Güler, responsável por retratar, durante 75 anos, a identidade (a preto e branco) da antiga Bizâncio — chegou ao Real Madrid sem medo de se impor ou conquistar um lugar entre uma galeria de vultos como Cristiano Ronaldo, Guti, Modric ou Mesut Özil, de quem herdou a camisola 10 no Fenerbahçe de Jorge Jesus.

Aos 18 anos, completados a 25 de Fevereiro, depois de ter estado muito perto de rumar a Camp Nou e de ter cativado colossos como Bayern Munique, Liverpool, AC Milan e PSG, o menino nascido em Ancara diz-se preparado para garantir um lugar na equipa de Carlo Ancelotti, descartando qualquer cenário de empréstimo, como o que lhe indicava o acordo com o FC Barcelona e que lhe permitiria evoluir mais uma época no emblema de Istambul.

Impaciente e destemido, como se viu na cerimónia oficial de apresentação ao “interromper”, ainda que inadvertidamente, o discurso do presidente Florentino Pérez, Güler diz-se mais do que pronto para agarrar a oportunidade e impor-se com um estilo cintilante, sublimado pelo pé esquerdo que levou o gigante espanhol a pagar valores acima da cláusula de rescisão de 17,5 milhões de euros.

Caso os objectivos do contrato de Arda Güler sejam plenamente cumpridos, o Fenerbahçe receberá mais dez milhões de euros para além do cheque de 20 milhões assinado pelos espanhóis, verbas a que somará um extra de 20 por cento de uma futura transferência. Números, apesar de tudo, relativamente modestos quando comparados com alguns negócios actuais, excluindo, obviamente, os desvarios sauditas.

Isto, mesmo sabendo que os pais de Arda Güler cobraram 15 milhões de euros de comissões ao Real Madrid, que pagou ainda oito milhões de “luvas” ao jovem jogador que Vítor Pereira lançou profissionalmente, com 16 anos, na Liga Europa, em jogo da primeira mão do play-off com os finlandeses do HJK.

Nadal da Anatólia

Os elogios sucedem-se, de resto, sempre que técnicos ou companheiros são abordados para caracterizar o jogo de Güler, descrito como uma espécie de bailado ou um soneto que os vídeos dos melhores lances parecem corroborar.

Serhat Pekmezi, responsável do Fernebahçe pelo recrutamento de Güler — uma história que remete um pouco para o tipo de visão de Sonny Vaccaro, da Nike, em relação a Michael Jordan, retratada no filme AIR —, garantiu ao repórter Gianluca Di Marzio, em entrevista explorada pelo diário espanhol AS, que Arda Güler, “uma mescla de Guti e Modric” e não tanto um Messi, será um dia capitão do Real Madrid e o grande orgulho do futebol turco.

Mas de onde vem tão forte convicção? Provavelmente do carácter que Pekmezi detectou quando observava Güler e o jovem de apenas 14 anos se lesionou num tornozelo.

“A primeira coisa que me chamou a atenção foi a capacidade de ler o jogo e de perceber todos os posicionamentos antes mesmo de receber a bola”, contou o “caça-talentos” turco, que ainda teve de convencer o presidente do Fenerbahçe de que não podia deixar escapar o miúdo que se destacava no Gençlerbirligi.

Mas, para além da qualidade técnica e da visão de jogo, foi a atitude, ao não desistir perante as adversidades. Pekmezi seguiu Güler depois do jogo e, ao ver a capacidade de sofrimento exigida para terminar aquele jogo, percebeu que estava perante uma futura estrela.

Um craque que o pai, Umit Güler, começou a lapidar desde muito pequeno, incentivando-o a jogar com o pé esquerdo. Mais uma história com paralelo noutro vulto do desporto mundial. Tal como Rafael Nadal, um dos maiores campeões da história do ténis, Güler não nasceu canhoto.

No caso do maiorquino, foi o tio Tony Nadal a incentivar a pancada de esquerda, já que Rafa jogava a duas mãos, tanto a direita como a esquerda. Hoje, ninguém saberá quão bom seria Nadal caso não tivesse contrariado a tendência natural.

No caso de Arda Güler, que começou a chutar bolas a balões propositadamente colocados à frente do pé esquerdo, sabemos apenas que não terá sentido dificuldades de maior para vestir a pele de um autêntico canhoto.

Agora, “lapidado” por Jorge Jesus em Istambul, depois da estreia profissional com 16 anos patrocinada por Vítor Pereira e da chegada à selecção principal da Turquia como o mais jovem de sempre, em jogo particular com a República Checa, a 19 de Novembro de 2022, Arda Güler enfrenta o maior desafio da carreira nos principais palcos mundiais.

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