Na Islândia, Portugal limitou-se a sobreviver

Na 200.ª internacionalização, Cristiano Ronaldo, que nem estava a ser feliz, entregou o triunfo à selecção com um golo aos 89’. E Portugal soma quatro vitórias em quatro jogos.

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Ronaldo em acção frente à Islândia EPA/JOSE SENA GOULAO
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É incomum a formulação de “sobrevivência” num jogo entre uma equipa como Portugal e outra como a Islândia. Porém, o duelo desta terça-feira não merece outra caracterização. Portugal jogou pouco, criou pouco, rematou pouco e parecia que ia levar pouco deste jogo de qualificação para o Euro 2024. Só aos 89', já com a Islândia em inferioridade numérica, houve um golo de Ronaldo, que garantiu um triunfo, por 0-1.

Frente à Islândia, o futebol jogado chegou a ser confrangedor e foram curtas a dinâmica e a energia para mudar o que se passava. O desfecho foi justo? Pela presença e predisposição ofensivas, talvez. Pelo futebol criado e pela qualidade das oportunidades, nem por isso.

Tudo pelo ar

Portugal entrou neste jogo com um sistema híbrido que variou entre o 3x4x3 e o 3x5x2, consoante as posições de Bernardo e Rafael Leão, que foi titular a partir da esquerda.

Do outro lado, a Islândia não cedeu à tentação de defender com uma linha de cinco e estes dois desenhos tácticos tiveram impacto claro naquilo que foi o jogo.

De um lado, Portugal tinha um jogador como Leão, que vive para o corredor, além de dois laterais ofensivos como Cancelo e Dalot. Do outro, a Islândia, com uma defesa a quatro, tinha de preocupar-se mais em ter coesão na zona central do terreno, preferindo arriscar “oferecer” os corredores e seduzir Portugal à via do cruzamento.

Dando Leão, Cancelo e Dalot “de borla”, a Islândia teve apenas de preocupar-se em ter presença na zona central para onde Portugal enviava cruzamentos sistemáticos – ora depois de os alas ganharem a linha, ora puxando para dentro e cruzando em arco.

Se era cruzamento da direita, Leão nem sempre se juntava a Ronaldo a tempo de ser útil na área. Se era cruzamento na esquerda, Leão e Cancelo estavam nessa zona e Dalot, do lado oposto, também não entrava na área.

Sem movimentos de Bruno Fernandes e com inutilidade física de Bernardo nesse tipo de futebol, restava Ronaldo para responder aos cruzamentos. E o resultado era sempre o mesmo: luta inglória com os “monstros” islandeses, fãs do duelo físico e aéreo.

O plano dos nórdicos acabou por ser interessante na medida em que não se limitou a defender como pôde, mas sim tomar uma opção clara – a de dar os corredores – que pudesse provocar um determinado tipo de jogo a Portugal. Nessa medida, a equipa foi mais do que uma sobrevivente pelo esforço.

Portugal criava perigo apenas em lances aéreos – e pouco – e a Islândia fazia o mesmo – mas um pouco mais. Aos 23’, um cruzamento largo deixou Pálsson em posição para um golo fácil, mas o defesa rematou por cima.

Pouco mudou

Os melhores lances de Portugal até eram de bola parada e pela via aérea – cabeceamentos de Pepe e Ronaldo após cantos – e a segunda parte não mudou grande coisa a esse nível. Mudou, sim, a presença na área.

Bruno Fernandes pareceu ter regressado com indicações para se juntar mais a Ronaldo, bem como os laterais Dalot e Cancelo, que também entravam mais em zonas de finalização ao segundo poste.

Na prática, estas alterações pouco significado tiveram. Portugal continuou a produzir pouco e só aos 68’ saiu algo da cabeça de Roberto Martínez, que lançou dois defesas, Guerreiro e Inácio, provavelmente procurando mais “perfume” na forma de verticalizar o jogo: Guerreiro tem muito critério quer pela ala quer pelo centro e Inácio, como central, tem uma capacidade técnica bastante superior a Danilo – sobretudo quando o jogador do PSG joga pela esquerda.

O “efeito Inácio” demorou apenas um minuto, quando o defesa lançou Ronaldo em profundidade – sem boa definição do capitão.

A Islândia esteve perto do golo aos 71’, num remate de fora da área após um adormecimento colectivo de Portugal. Seria merecido? De maneira nenhuma. Mas Portugal também pouco estava a fazer.

Willumsson foi expulso aos 80’, numa entrada dura que lhe valeu o segundo amarelo, mas a Islândia não perdeu grande coisa: a defesa a quatro era a mesma, o meio-campo a quatro também. Havia apenas menos presença ofensiva, mas não era nada disso que interessava aos islandeses nessa fase do jogo.

Aos 89’, um lance aéreo deu salto de Inácio e cabeceamento do central como assistência para um remate de Ronaldo.

O lance foi invalidado por fora-de-jogo, mas o VAR corrigiu a indicação do árbitro assistente e indicou que Portugal tinha de chegar ao 1-0.

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