Poirot foi à Régua

O mistério da Régua também tem vítimas, suspeitos, criminosos racistas, calor das paixões e enredo emaranhado. No final do episódio, Galamba diz que quer trabalhar.

Ouça este artigo
--:--
--:--

Agatha Christie escreveu o magistral policial Morte no Nilo em redor da sagacidade do católico Hercule Poirot. Aí, na trama, ingleses matam-se no Egipto e Poirot desvenda que, afinal, o principal culpado parecia o mais inocente.

No dia 10 de junho de 2023, lembrei-me de Agatha Christie. A Régua ficou famosa no imaginário regional por ser local de encontro de apaixonados que, mais ou menos ilicitamente, combinavam encontros nas suas pensões. Eram de fora mas o que se fazia na Régua, ficava na Régua. Os polícias da Régua tinham a fama de malcriadões, mas, como convém, nunca eram da Régua. Até mesmo os maiores zaragateiros na festa da Senhora do Socorro eram geralmente os de fora. Portanto, a Régua, inocente, era testemunha das asneiras que outros iam para lá fazer.

No dia 10 de junho de 2023 vi várias asneiras na Régua. A primeira – Costa levar Galamba. Poderia ter levado outro ministro? Poderia, mas não era a mesma coisa. Segunda – Marcelo falar de poda quando todos pressentiam quem deveria ser podado. A culpa é da interpretação alheia não da objetividade das palavras. Poderia ter falado de outros ramos? Poderia, mas não era a mesma coisa. Finalmente, Costa percorreu um longo calvário na Régua, ladeado por algumas pessoas socialistas da região (que não eram da Régua), e perseguido por uma turba de (supostamente) professores com cartazes que continuaram uma linha gráfica que vinham ensaiando há meses, mas agora identificados como cartazes com mensagens racistas. Poderia ter ido por outros caminhos para o almoço? Consta que sim, mas não seria a mesma coisa.

Portanto, como no Morte no Nilo” o mistério da Régua também tem vítimas, suspeitos, criminosos racistas, calor das paixões e enredo emaranhado. No final do episódio, Galamba diz que quer trabalhar (admiro a resiliência psicológica desta personagem), Marcelo não antecipa se o Dia de Camões de 2024 será noutro cenário escolhido por Agatha Christie e Costa regressa a São Bento. Com maioria absoluta.

E como noutro episódio magistral de Poirot (Morte ao Sol), Marcelo, ao dizer que antecipou a vontade do eleitorado em manter o Governo em funções, leva a que suspeitemos se foi Marcelo que leu efetivamente o eleitorado em antecipação, ou se, pelo contrário, foi o eleitorado que perdoou a Marcelo antecipadamente toda a encenação em torno do 26 de abril de 2023.

Agatha Christie teria gostado da Régua!

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 3 comentários