Referendo em Benfica: NÃO, EMEL não resolve

O défice de lugares de estacionamento na freguesia é gritante! Como é que a EMEL vai resolver esta insuficiência? Não vai, antes pelo contrário.

O principal problema da falta de estacionamento em Benfica não resulta da ocupação dos lugares por “invasores externos oportunistas”, que serão expulsos para além das muralhas do feudo com a entrada da EMEL (Empresa Municipal de estacionamento de Lisboa). Se assim fosse, por serem locais essencialmente residenciais, nas zonas mais problemáticas existiriam lugares no período noturno, o que não é verdade. Veja-se o que aconteceu na Freguesia de S. Domingos de Benfica, onde a entrada da EMEL nada mudou. A ausência de lugares continua; aumentou apenas a perseguição aos moradores e, consequentemente, as multas, os bloqueadores e os reboques.

De acordo com os dados da Junta de Benfica, a freguesia tem, em média, 2,6 carros por residência. Analisando a zona do Calhariz Novo, existem 1840 veículos para um total de 570 lugares. O défice de lugares é gritante! Como é que a EMEL vai resolver esta insuficiência? Não vai, antes pelo contrário.

Assim, a criação de mais lugares de estacionamento é obrigatória, mas tal não fez parte do plano da Câmara de Lisboa nos últimos anos, apesar das propostas apresentadas pela Junta de Freguesia de Benfica para a construção de 1800 novos lugares. Ao contrário do “sonho vendido” pelos defensores do "sim", a EMEL não trará qualquer lugar adicional. Há, ao invés, um conjunto de lugares informais que serão eliminados, mesmo que não ocupem passadeiras, passeios, curvas, ou prejudiquem os acessos de emergência. O que a EMEL trará serão dísticos para todos, obviamente pagos, e, naturalmente, emitirá mais dísticos do que lugares… Com dísticos e bolos, se enganam os…

É este o paradoxo que os peticionários do "sim" não conseguem explicar. Como poderão existir mais lugares de estacionamento se, em resultado da entrada EMEL, passaremos a ter menos lugares?

A expressão salvadora utilizada pelos peticionários do "sim" é a rotação de lugares. Sejamos sérios e realistas. Não estamos numa zona de escritórios com elevada volatilidade de ocupantes em diferentes períodos do dia, como as Avenidas Novas, onde o conceito de rotação pode fazer sentido. Aqui não! Como se pode rodar lugares de estacionamento inexistentes?

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Em desespero argumentativo, os defensores do "sim" assumem um discurso conceptual, colando o "sim" à ordem e progresso e o "não" à desordem e ao caos. Percebe-se bem o que nos separa. A realidade e o conhecimento profundo da freguesia, da sua vida, das ligações entre os espaços e as necessidades dos fregueses. Os peticionários do "sim", movidos por preconceitos evidentes sobre os seus concidadãos e por conceitos teóricos, estão emprenhados e toldados por uma deriva conceptual, não aderente à realidade do dia a dia.

A criação de nove zonas de tarifação denota bem a vontade de maximizar receitas para a EMEL e não o interesse dos moradores. Algumas zonas são pouco mais do que duas ruas, obrigando a que qualquer freguês para a sua vida do dia a dia tenha de pagar para se deslocar dentro da freguesia. A entrada da EMEL conduzirá a uma freguesia desmembrada, fracionada e dividida.

De igual forma, a entrada da EMEL representará uma machadada no vivo e acarinhado comércio de Benfica. O seu mercado, o mais diverso e relevante em Lisboa, sairá penalizado. Os seus utilizadores escolherão, naturalmente, outros locais para fazer as suas compras. Das posições públicas dos defensores do "sim" pretende-se, provavelmente, isto mesmo. Que a Freguesia de Benfica seja somente para os moradores de Benfica, esquecendo-se que a sua riqueza vem dos milhares de cidadãos, fregueses ou não, que por ela passam, utilizam e usufruem.

O referendo, sendo a única forma disponível para se avançar neste processo, é um instrumento que representa, uma vez mais, esta visão de Benfica voltada para si mesma. Só poderão votar os fregueses de Benfica, sendo o seu tecido constituído por muitos outros atores, com destaque para os comerciantes.

Os moradores de Benfica conhecem bem a realidade onde vivem e, por isso, votarão "Não à EMEL" no dia 12 de fevereiro.

João Paulo Santos, José Antunes e Tiago Santos - peticionários pelo "Não à EMEL"

Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico

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