Sorloth, o rapaz que teve de pedir menos amor

Há alguns meses, este avançado pode ter sido o primeiro futebolista a recusar ser amado. Hoje, merece muito amor pelo que tem feito em Espanha. E a Noruega pode juntá-lo a Haaland e Odegaard...

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Sorloth celebra pela Real Sociedad EPA/Javier Etxezarreta

Não está fácil parar a Real Sociedad na Liga espanhola. A equipa basca segue em terceiro lugar, com uma margem bem confortável para o quinto – são dez pontos que, em tese, serão suficientes para que a equipa segure um lugar de acesso à Liga dos Campeões. Há várias razões para este sucesso e uma delas vem lá bem do Norte, da gélida cidade de Trondheim, na Noruega.

Alexander Sorloth, norueguês, é o terceiro melhor marcador da La Liga, com oito golos, só superado por Joselu e Lewandowski. E tem, por isso, sido bastante amado pelos adeptos bascos. Mas nem sempre lidou bem com amor em excesso. Já lá vamos.

Sorloth está na Real Sociedad depois de uma carreira bastante bizarra. É um jogador que, aos 27 anos, passou toda a carreira numa montanha-russa – ora foi acima, ora foi abaixo, ora um passo à frente, ora um passo atrás, ora uma aventura conquistada, ora um estatuto deitado ao lixo.

Vejamos: começou no Rosenborg, mas a falta de golos fê-lo dar um passo atrás e ser emprestado ao Bodo, onde marcou bastante. Deu, aí, um passo em frente, seguindo para a Liga neerlandesa, onde marcou pouco pelo Groningen. Depois, novo passo atrás, para o campeonato da Dinamarca, onde voltou a ser goleador. Contratado para a Liga inglesa, falhou redondamente no Crystal Palace.

O que aconteceu a seguir? Novo passo atrás, claro. Na Turquia, tornou-se uma lenda do Trabzonspor, com 33 golos e dez assistências em 2019/20.

Voltaram a confiar nele e foi contratado pelo Leipzig – novo passo em frente, novo falhanço. Saiu de uma equipa de Champions e foi parar à Real Sociedad. Uma vez mais, precisou de descer de nível para ser bom.

O relato, ainda que possa ser algo aborrecido, tem um propósito: mostrar que só quando dá passos atrás é que Sorloth consegue ser o que prometeu. Trocado por miúdos, isto equivale a dizer que Sorloth não tem sido jogador para o futebol de topo, mas rende num nível médio. Ou será que é? Se marca golos pelo terceiro classificado da Liga espanhola, talvez finalmente mostre que há espaço para este norueguês num campeonato de primeira linha.

Quando se fala de Sorloth fala-se de um gigante de quase dois metros, mais de 90 quilos e um pé esquerdo “canhão”. Em suma, é um monstro. “Em miúdo, o Drogba era o meu jogador favorito: grande, forte, rápido e com finalização”, disse um dia Sorloth ao canal do Crystal Palace, apesar de se ter apressado a dizer que não se comparava – e fez bem em dizê-lo, porque a velocidade do costa-marfinense não faz parte dos predicados do escandinavo, que se a tivesse certamente já estaria noutro nível.

Numa das partes descendentes da sua “montanha-russa”, Sorloth tornou-se uma lenda na Turquia. Quando deixou a Liga inglesa para tentar fazer pela vida no Trabzonspor, os muitos golos marcados pelo clube deixaram-no com um estatuto tremendo nos sempre apaixonados fãs turcos.

Tanto assim foi que Sorloth se viu obrigado a pedir... menos amor. Quando falhou no Leipzig, no ano seguinte a ter sido lenda na Turquia, uma publicação de Sorloth no Instagram foi “bombardeada” com comentários de adeptos turcos a pedirem para o jogador regressar ao Trabzonspor. Foram milhões – mesmo milhões.

Até que Sorloth não aguentou. “Agradeço o vosso amor e apoio, mas, por favor, parem de me chamar e mandar mensagens. Tornam o meu dia stressante. Já chega”. Pode bem ter-se tornado no primeiro jogador de futebol a pedir menos amor e carinho.

A talhe de foice, fica uma nota para reflexão: Sorloth é norueguês, Haaland é norueguês, Odegaard é norueguês. É esperar para ver o que vai sair daquela selecção. Pode ser giro.

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