Bloco aposta em novos formatos para chegar aos mais jovens

Catarina Martins lançou esta segunda-feira o primeiro episódio de um podcast semanal de conversas com figuras partidárias, inclusive ex-membros do Governo, e da sociedade civil.

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O podcast "Contra-regra" sai todas as segundas-feiras e, por enquanto, não tem fim à vista Daniel Rocha

“Tivemos momentos de acordo na política, tivemos momentos de desacordo.” É assim que Catarina Martins explica a relação que manteve, enquanto líder do Bloco de Esquerda (BE), com Francisca van Dunem, ex-ministra da Administração Interna e da Justiça, no primeiro episódio do novo podcast do partido. Mas a descrição serve também ao próprio “Contra-regra”, uma série de conversas entre a coordenadora dos bloquistas e figuras da esquerda à direita, da política partidária e fora dela, que arrancou esta segunda-feira.

A iniciativa não é invulgar para um partido que, como explica ao PÚBLICO Catarina Martins, "sempre criou espaços de reflexão”, inclusive através de podcasts. Mas a líder do partido admite que esta é uma tentativa de apostar num “novo formato” para “chegar às pessoas mais novas”, uma estratégia a que não será indiferente a perda eleitoral de Janeiro passado.

É, porém, inovador ver um líder partidário à frente de um podcast em Portugal, embora do ponto de vista internacional seja "relativamente comum", como aponta Catarina Martins. “Até sou conservadora por chegar tão tarde”, brinca, argumentando que “todos temos questões a fazer uns aos outros”.

A ideia é que essas questões possam ser colocadas num espaço de debate "não restrito", “com mais liberdade” e “sem pressão da actualidade”. Os temas escolhidos não deixam, ainda assim, de ser relevantes no quotidiano, como é o caso do racismo institucional em Portugal, em debate com Francisca van Dunem, ou da construção da oposição russa à guerra na Ucrânia, discutida com a activista Ksenia Ashrafullina.

Além destas convidadas, serão ainda chamados à conversa a ex-ministra do PS Alexandra Leitão, o historiador e ex-deputado do PSD José Pacheco Pereira, o músico Sérgio Godinho ou a judoca Telma Monteiro para "afirmar claramente que este não é um podcast do Bloco para pessoas do Bloco”. Antes, que os convidados têm “autonomia" face ao partido, o que, argumenta, poderá aproximar a sociedade civil.

No caso de Van Dunem, o convite surgiu depois da reacção da ex-governante à investigação do consórcio de jornalistas sobre o discurso de ódio na PSP e GNR. “Não é tanto por ter sido ministra, mas por ser uma magistrada negra ligada à justiça e à segurança capaz de desmontar estes temas”, explica Catarina Martins.

No primeiro episódio, intitulado "Que segurança quando as instituições fecham os olhos ao racismo?", foi precisamente isso que se procurou fazer e, embora em desacordo nalguns pontos (como na discussão sobre se o racismo na sociedade portuguesa é estrutural e se se deve dar mais atenção à segurança do que à dimensão social nas prisões), foram também muitos os momentos de acordo na conversa entre a bloquista e a socialista: sobre a importância da libertação por perdão de dois mil reclusos, a necessidade de se fazer um levantamento da composição étnica das prisões ou de não se endurecerem as penas para os presos.

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