Solidão, a pandemia que se combate com atenção

Ajude a atenuar a tristeza e isolamento de quem se sente só e ofereça-lhe a sua atenção este Natal.

Foto

Neste momento, bem mais perto de si do que imagina, é muito provável que alguém esteja a sofrer de solidão. De tal maneira que há já quem fale de uma nova pandemia, a qual se tem vindo a alastrar progressiva e silenciosamente, já que silencioso é também o sofrimento de quem se sente desamparado e só.

Segundo o relatório Gallup Global Emotions 2022, estamos a falar de uma realidade vasta e muito preocupante, tendo em conta que 330 milhões de adultos no mundo dizem passar pelo menos duas semanas sem falar com um único amigo ou familiar. Nesta investigação, levada a cabo para avaliar as emoções predominantes globalmente, ficamos ainda a saber que uma em cada cinco pessoas sente que não tem ninguém com quem contar, sendo que é na faixa etária entre os 30 e os 40 anos que este sentimento é expresso com maior predominância.

Em Portugal, a situação revela-se igualmente inquietante, com 21,9% dos portugueses a admitirem sentir-se sozinhos, em 2020, de acordo com um estudo publicado recentemente pela Comissão Europeia sobre o tema. Mas o que chama particular atenção é a evolução deste indicador nos últimos anos, que subiu 15,3 pontos percentuais face a 2016, o que faz de Portugal o sexto país da União Europeia onde o sentimento de solidão mais aumentou.

Jovens cada vez mais sós e tristes

Se, anteriormente, a solidão era um sentimento sobretudo detectado entre os idosos, em especial quando se sentiam abandonados pela família e entregues à sua sorte, numa altura da vida em que mais precisavam de cuidado e atenção, o que se tem vindo a verificar é que, gradualmente, também os mais novos começam a queixar-se de isolamento social. E o confinamento imposto pela pandemia de Covid-19 não será alheio ao fenómeno. Com efeito, numa outra pesquisa realizada em Portugal, em Março de 2021, pelo centro de conhecimento Reputation Circle, apurou-se que seis em cada dez pessoas se sentem infelizes ao fazerem coisas sozinhas, mas entre os inquiridos mais jovens (16-25 anos), este sentimento sobe para sete em cada dez. Por outro lado, cerca de 33% dos inquiridos dizem sentir-se excluídos por outras pessoas, manifestando a percepção de que as relações podem ser meramente utilitárias, sendo que na faixa entre os 16-25 anos de idade este sentimento sobe para 41%.

Estes dados não são estranhos se tivermos em conta outros, mais recentes, oriundos do novo grande estudo da Organização Mundial da Saúde sobre a adolescência em Portugal, que nos revelam que, entre 2018 e 2022, a percepção de infelicidade dos adolescentes portugueses subiu de 18,3% para 27,7%.

O que se sabe também é que esta realidade segue a tendência europeia. Por exemplo, em Fevereiro de 2022, o The Prince’s Trust NatWest Youth Index revelou que 35% dos jovens britânicos entre os 16 e os 25 anos se sentiram mais sozinhos que nunca durante a pandemia, e a maioria (57%) considera que estar com outras pessoas é importante para o seu bem-estar.

Ministério da Solidão - em busca de soluções

A pertinência do tema é de tal forma que, em 2018, o Reino Unido criou mesmo o primeiro Ministério da Solidão do mundo, justificado pelo facto de o país estar perante um dos maiores desafios de saúde pública do seu tempo, como explicou a primeira-ministra da altura, Theresa May, aquando do lançamento da iniciativa – e isto, note-se, ainda antes da Covid-19.

Agora, e também devido ao profundo impacto da pandemia, países de todo o mundo estão a olhar para o tema da solidão de forma diferente. O Japão seguiu as pisadas do Reino Unido e, em 2021, tornou-se no segundo país a criar um Ministério da Solidão, com o objectivo de coordenar esforços e promover políticas entre ministérios e agências para lidar com a solidão e o isolamento. À medida que o debate sobre o tema aumenta, fruto da preocupação crescente trazida pelas estatísticas, acredita-se que muitos outros países venham a fazer o mesmo percurso.

Mais solidão, menos saúde

Mas porque é que a solidão e o isolamento devem ser olhados com tanta preocupação? Afinal, não houve sempre gente a sentir-se sozinha? A verdade é que a forma como as pessoas vivem, hoje, em sociedade alterou-se radicalmente: menos apoio da família por perto, menos relações comunitárias, mais isolamento e uma forte crença de que é possível ser-se independente e autónomo, sem necessidade de pedir ajuda a outros. É este o caldeirão em que se vive actualmente em grande parte das sociedades ocidentais, a que se soma uma incoerência entre a quantidade e a qualidade das relações sociais que temos e as que queremos.

A razão por que a solidão deve ser encarada como um real problema que carece de solução é que tem um forte impacto na saúde física e mental de quem dela padece. Taxas mais altas de mortalidade (o risco de mortalidade é comparável ao provocado pela obesidade e tabagismo), depressão e declínio cognitivo são alguns dos efeitos amplamente conhecidos, a que se juntam indicadores desfavoráveis de saúde cardiovascular (elevados níveis de pressão arterial e colesterol, assim como doença coronária), distúrbios do sono e até abuso de substâncias.

Com efeito, a solidão é considerada um importante determinante social da saúde, reflectindo-se, por exemplo, num aumento do número de consultas médicas durante a adolescência e num maior recurso aos serviços de urgência na idade adulta. Entre as pessoas mais velhas, alguns estudos relacionam a solidão com um maior risco de demência, doença de Alzheimer e probabilidade de internamento em lares, entre outras consequências.

Sabe-se ainda que as pessoas que se sentem sós são mais propensas a desenvolver pensamentos negativos, nomeadamente sobre si mesmas, a ter maior dificuldade de concentração, de resolução de problemas e de tomada de decisão, além de que são com frequência estigmatizadas e encaradas como socialmente ineptas.

Perante a solidão, o que fazer?

Se identifica algum dos sinais ou sintomas de solidão em alguém que conhece, não hesite em ajudar. Pequenos gestos podem fazer toda a diferença. O seu apoio pode manifestar-se de diferentes formas:

Se reconhece os referidos sintomas de solidão em si mesmo, saiba também que há muito que pode fazer para atenuar ou mesmo resolver o problema:

- Converse sobre os seus sentimentos com o seu médico, terapeuta ou outro profissional de saúde;
- Envolva-se em actividades com outras pessoas, mesmo que ao início tal lhe pareça uma tarefa difícil. Desenvolver trabalho de voluntariado, integrar um clube de leitura (ou outro passatempo) ou um ginásio são hipóteses que pode considerar;
- Convide alguém para uma caminhada, faça actividade física ao ar livre e apanhe sol;
- Contacte a Associação SOS Voz Amiga, uma linha de apoio emocional anónima, que se destina a ajudar todas as pessoas que se sentem sós e em sofrimento. Ligue: 213 544 545, 912 802 669 ou 963 524 660 - diariamente entre as 15h30 e as 00h30. A NOS disponibiliza uma linha gratuita para facilitar o acesso à Associação SOS Voz Amiga, como parte da sua campanha de Natal.

Ligue(-se) a quem mais precisa com a ajuda da NOS

A solidão foi precisamente o tema da campanha de Natal da NOS, intitulada “Carrossel”, que mostrou o percurso de vida de um homem, desde a infância até à idade adulta. Em cada volta do carrossel acompanhamos o passar do tempo, numa viagem com altos e baixos, à semelhança de todas as vidas. Até que num momento de profunda solidão, vemo-lo receber uma mensagem dos pais a resgatá-lo do isolamento e tristeza em que se encontra, acolhendo-o num confortável Natal em família.

A mensagem é clara: a solidão pode ter solução, já que muitas vezes basta um ouvido atento e uma palavra carinhosa. Assumindo o poder das ligações, a NOS promoveu o contacto e incentivou ao máximo a partilha de atenção, oferecendo a todos os seus clientes, neste Natal, 10 mil minutos, 10 mil SMS e 10GB de dados móveis (uma oferta que esteve disponível através da App NOS ou do número 1276, entre os dias 1 e 26 de Dezembro, para novos e actuais clientes).


Fontes:
Gallup (2022), “Gallup Global Emotions 2022”, disponível em: https://www.gallup.com/analytics/349280/gallup-global-emotions-report.aspx
European Commission Joint Research Center (2022), “Loneliness in the European Union”, disponível em: https://knowledge4policy.ec.europa.eu/projects-activities/loneliness-european-union_en
Reputation Circle (2021), disponível em: https://reputationcircle.pt/o-impacto-da-pandemia-da-solidao-na-saude-da-sociedade-e-das-empresas/
Prince’s Trust (2022), “The Prince’s Trust NatWest Youth Index”, disponível em: https://www.princes-trust.org.uk/about-the-trust/news-views/princes-trust-natwest-youth-index-2022
Centers for Disease Control and Prevention (2021), “Loneliness and Social Isolation Linked to Serious Health Conditions”, disponível em: https://www.cdc.gov/aging/publications/features/lonely-older-adults.html
Leigh-Hunt N., Bagguley D., Bash K., et al. (2017), “An overview of systematic reviews on the public health consequences of social isolation and loneliness”, Public Health, 152:157-71, disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0033350617302731
Hawkley, Louise C. e Capitanio, John P. (2015), “Perceived social isolation, evolutionary fitness and health outcomes: a lifespan approach”, Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci, 370(1669), disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4410380/
SNS 24 (2022), “A Solidão e o Isolamento Social”, disponível em: https://www.sns24.gov.pt/guia/a-solidao-e-o-isolamento-social/

Advertisement

Sugerir correcção
Comentar