Walid Regragui, dos subúrbios de Paris à conquista do mundo

Com apenas três meses de trabalho, o seleccionador preparou Marrocos para ir mais além do quartos-de-final no Mundial 2022.

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Regragui é um seleccionador muito próximo dos seus jogadores Reuters/PEDRO NUNES

Quando Marrocos terminou o Grupo F no primeiro lugar, o treinador Walid Regragui confessou: “Antes de chegarmos, o objectivo era passar a primeira fase. Agora, porque não pensar em ganhar o Mundial?” A vitória histórica sobre a Espanha, que colocou Marrocos pela primeira vez nos quartos-de-final, veio confirmar que os jogadores marroquinos acreditam na confiança que o seu seleccionador lhes transmite.

Francês de nascimento (Corbeil-Essonnes, a sul de Paris, há 47 anos), Walid Regragui fez a vontade ao pai e concentrou-se nos estudos até obter um diploma em Ciências Económicas e Sociais.

Ao mesmo tempo, deslocava-se ao estádio para ver o Matra Racing onde actuava um tal de Rabah Madjer, e jogava nas camadas jovens do clube local. Até que o treinador da equipa principal decide ir espreitar os juniores e “descobre” Walid, salientando qualidades nele que podiam levá-lo a profissional. “Fez um rapaz de 19 anos sonhar”, reconheceria Regragui.

Enquanto jogador teve uma carreira modesta. Com excepção de três épocas no Racing Santander (2004-07), actuou em equipas francesas da primeira e segunda divisão: RC Paris, Toulouse, Ajaccio, Dijon e Grenoble. “Walid, além da sua inteligência nitidamente acima da média, tinha uma facilidade muito grande no balneário, com aquela pitada de humor nunca ofensiva”, refere Rolland Courbis, treinador que o levou para o Ajaccio.

Foi internacional 46 vezes por Marrocos e teve a sua experiência no banco da selecção, entre Setembro de 2012 e Outubro de 2013, como adjunto de Rachid Taoussi. Como treinador principal, Regragui dirigiu o FUS Rabat entre 2014 e 2020 – foi ele que lançou o defesa Nayef Aguerd na equipa principal e sagrou-se campeão nacional em 2016. Mudou-se para o Al-Duhail SC do Qatar, onde permaneceu apenas nove meses, mas saiu como campeão. Em Agosto de 2021, assinou pelo Wydad AC (mais conhecido por WAC Casablanca), onde conquistou o título na Liga dos Campeões da CAF, antes de ser chamado para substituir Vahid Halilhodzic à frente da selecção, embora tenha sido o treinador bósnio a assegurar a presença no Mundial 2022, em Março.

André Villas-Boas foi sondado para o lugar, mas o presidente da federação marroquina queria alguém mais próximo da realidade marroquina, que atraísse de novo para a selecção a estrela do Chelsea, Hakim Ziyech e os adeptos marroquinos, zangados com as opções de Halilhodzic.

Com um passado irrepreensível nesse aspecto e com um currículo invejável como treinador de clubes vindo de uma época de sonho com o WAC, Walid Regragui era a escolha óptima.

“Walid é alguém muito próximo dos seus jogadores. É íntegro, fala quando as coisas vão bem ou quando não vão. Está ali com um propósito específico, cabe a nós segui-lo e confiar nele”, revelou Romain Saiss, que o novo seleccionador manteve como capitão da selecção.

Regragui não teve tempo para fazer experiências, mas os três jogos de preparação correram bem: vitórias sobre Chile (2-0) e Geórgia (3-0) com um empate (0-0) pelo meio, frente ao Paraguai. O foco esteve na eficácia defensiva, com as notórias consequências no Qatar: três encontros sem sofrer golos, diante da Croácia (vice-campeã mundial em 2018), Bélgica (segunda no ranking), e Espanha (semifinalista no último Euro) – e apenas um golo sofrido, diante do Canadá, quando já ganhavam por 2-0.

“O seu próximo desafio será treinar uma boa equipa da Ligue 1”, adianta Courbis. Mas Regragui tem um desafio pela frente, que espera terminar em 2024 após um bom resultado na CAN.

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