Porque é Natal, Fernando Tordo leva os Operários até ao palco

Há muito esgotado, o disco Os Operários do Natal é agora levado a palco por Fernando Tordo, em três concertos natalícios: dia 3 na Póvoa de Varzim, 8 em Pombal e 17 no Estoril.

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Fernando Tordo, aqui na Casa da Música RUI BANDEIRA

Foi há muitos anos, já quase tantos quantos os que leva o 25 de Abril, que surgiu nas lojas um disco intitulado Os Operários do Natal. Com textos dos poetas Ary dos Santos e Joaquim Pessoa, cantavam-no os ex-Sheiks Carlos Mendes, Fernando Tordo e Paulo de Carvalho, com arranjos de orquestra de Joaquim Luís Gomes e José Luís Simões, um coro infantil (não vem creditado no disco, mas Fernando Tordo recorda-se que “era um grupo de miúdos da Cova da Piedade”), introdução e narrativa de Maria Helena D’Eça Leal e ainda as vozes adicionais de Ana Bola e Júlio César, respectivamente nas canções A Costureira e Os Palhaços. Os outros “operários” do Natal eram Os Pais, O Lenhador, Os Carteiros, O Pasteleiro, Os Vendedores e Os Amigos. O disco foi gravado em Lisboa, nos antigos estúdios da Rádio Triunfo (onde são hoje as instalações dos Estúdios Namouche), foi editado em LP em 1976 e encontra-se esgotado há décadas.

“É um disco intemporal”, diz Fernando Tordo ao PÚBLICO. “Durante estes anos, já houve milhares de pessoas que me vêm propositadamente perguntar pelos Operários do Natal. Já pensámos reeditá-lo, mas, como se perderam as masters, ainda andamos à procura de um disco praticamente intocado para que se possa fazer um CD e satisfazer esses milhares de pessoas.” Enquanto não há disco, Fernando Tordo (que já cantara uma ou duas canções desse trabalho no espectáculo Natal em Casa de Ary, em 2021) resolveu levá-lo na íntegra a palco, em concertos com dois convidados especiais: Rita Redshoes e Ricardo Ribeiro. O primeiro está marcado para o Casino da Póvoa, no dia 3 de Dezembro, às 22h, o segundo no dia 8 em Pombal (no Jardim do Cardal, às 21h30) e o terceiro no dia 17 no Casino Estoril, às 22h. E talvez haja mais.

Da revolução ao Natal

O disco nasceu de uma conversa entre Fernando Tordo e Ary dos Santos. “Era uma época em que cada um tinha feito as suas opções e éramos muito pressionados, porque se cantávamos (no meu caso) o Cavalo à solta ou a Estrela da tarde, tínhamos de cantar depois as chamadas canções revolucionárias. Então, nessa conversa eu disse ao Zé Carlos: ‘Vamos fazer um disco de Natal’. E ele começou logo a escrever, ‘o pasteleiro’, ‘a vendedora’, etc., era uma matéria que era dele e aquilo foi feito num instantinho.” Fernando Tordo escreveu quatro das músicas, Carlos Mendes fez duas e Paulo de Carvalho outras duas. “Foi uma coisa feita com muita facilidade, por causa do empenhamento. Deu um prazer muito grande. Lembro-me de estarmos no estúdio e de algumas pessoas que passaram por lá (nós éramos tidos como gajos de esquerda, afectos ao Partido Comunista) dizerem assim: ‘É pá, isto é que é a revolução’.”

Fernando Tordo pôs logo como condição gravar com Carlos Mendes e Paulo de Carvalho, porque estavam os três na cooperativa Toma Lá Disco, e o nome de Joaquim Pessoa aparece porque, diz Tordo, “ele também ajudou a construir os textos” com Ary dos Santos. “Não foi preciso muitas sessões, só umas duas ou três, para fazer o disco todo. Porque, quer musicalmente quer a nível poético, era tudo muito entusiasmante, pela grande surpresa. Por exemplo: o Joaquim Luís Gomes estava no estúdio, cá em baixo, a dirigir a orquestra (creio que foi nos Vendedores, que é cantado pelo Paulo de Carvalho), depois sobe para ouvir e vi-o com as lágrimas nos olhos. Muito emocionado por, no ambiente de grande agitação que se vivia na época, sentir aquela paz.”

De avós para netos

Curiosamente, o disco nunca foi apresentado num espectáculo, por razões logísticas. “Foram precisos estes anos todos, quase 50, para que isso fosse possível”, diz Fernando Tordo. “Na altura foi mais uma coisa. O prestígio d’Os Operários do Natal está naquelas pessoas que compraram o disco na altura e o guardaram. Já conheço netos que dizem: ‘O meu avô mostrou-me este disco’. Na linguagem actual, já não serão aquelas as personagens, mas o que é interessante é dizer hoje à malta nova que aquilo existiu.”

Em palco, às oito canções do disco, juntar-se-ão outras que com elas se harmonizem. Rita Redshoes, diz Tordo, “vai fazer uma coisa que fez no CCB, há uns anos, que é banda sonora em directo de uma peça de teatro infantil. Senta-se a uma mesa, com xilofones, cornetas e outras coisinhas, e faz aquilo.” E a presença de Ricardo Ribeiro, o outro convidado, permite, segundo Tordo, “um enriquecimento muito grande do espectáculo.”

Nos concertos de Pombal e do Estoril haverá coros infantis. No primeiro participa o Coro infantil e juvenil de Santiago e São Simão de Litém e Albergaria dos Doze e no segundo o Coro Infantil de Carcavelos. Além disso, estarão em palco dois músicos: Valter Rolo, no piano, e Lino Guerreiro, nos saxofones e flautas. “Porque o espectáculo pode ser apresentado para muita gente, mas não deixa de ser uma coisa íntima e aconchegante.”

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