Um raro vislumbre sobre a “explosão criativa” de Steven Meisel e a moda de 1993

Meisel 93, patente na Corunha, traz de volta a moda tal como era em 1993. Linda Evangelista, Naomi Campbell e Claudia Schiffer são protagonistas da única grande exposição individual do fotógrafo.

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Steven Meisel Ana Marques Maia

O ano de 1993 foi extraordinariamente produtivo e relevante para a carreira do fotógrafo de moda Steven Meisel. Linda Evangelista, Carla Bruni, Naomi Campbell, Claudia Schiffer, Barbra Streisand e Twiggy são apenas algumas das mais conhecidas personalidades que retratou para a Vogue nesse ano – retratos que deram origem a 28 capas da revista e mais de 100 editoriais.

Não é, por isso, de estranhar que a exposição Meisel 93, organizada pela recém-criada fundação de Marta Ortega Pérez (MOP), actual presidente do grupo Inditex, se tenha apoiado no trabalho que Meisel produziu nesse ano – e que cumprirá 30 anos em 2023 – para dar corpo à única grande exposição individual que o fotógrafo norte-americano realizou ao longo da sua extensa carreira.

Vista da exposição Meisel 93, na Corunha, Galiza Ana Marques Maia
Vista da exposição Meisel 93, na Corunha, Galiza,Vista da exposição Meisel 93, na Corunha, Galiza Ana Marques Maia
Jimmy Moffat, agente do fotógrafo Steven Meisel Ana Marques Maia
A entrada da exposição Meisel 93, no Muelle de la Batería, Corunha Ana Marques Maia
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Vista da exposição Meisel 93, na Corunha, Galiza Ana Marques Maia

“Esta não é uma exposição retrospectiva”, assegura Jimmy Moffat, o fundador da agência que representa Meisel, diante dezenas de jornalistas no interior do edifício do espaço portuário Muelle de la Batería, na Corunha, Galiza, onde, desde o dia 19 de Novembro, decorre a exposição. “Isso significaria que Meisel estaria morto – e não é o caso”, justifica, rindo. Continua. “Em 1993, Meisel teve uma explosão de criatividade; trinta anos depois, as fotografias que realizou mantêm-se intemporais. As fotografias que estão aqui nunca tinham sido mostradas [em exposição].”

Ora a preto e branco, ora a cores, as 127 fotografias – impressas em grande formato a partir de filme negativo não retocado – estão dispostas ao longo de seis zonas do grande cubo branco que forma o espaço expositivo. Em cada uma delas há, pelo menos, um retrato de Linda Evangelista. “Durante o ano de 1993, o Steven fotografou a Linda várias vezes; desenvolveram uma bonita relação”, comenta Moffat. “Há mais fotos dela na exposição do que de qualquer outra personalidade.”

Linda Evangelista, Nova Iorque, 1993 ©Steven Meisel
Brent King, Nova Iorque, 1993 ©Steven Meisel
Isabella Blow, Paris, 1993 ©Steven Meisel
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Linda Evangelista, Nova Iorque, 1993 ©Steven Meisel

Destacam-se, para além dos anteriormente referidos, os retratos de Madonna, Kristen McMenamy, de Marlon Richards (filho de Keith, dos Rolling Stones) e de Stella Tennant, marcados transversalmente pela atitude de irreverência visível dos seus corpos e olhares.

Embora não seja uma exposição retrospectiva, há elementos nela contidos que são alheios ao ano de 1993 e que convidam a um olhar sobre os primeiros passos de Meisel na fotografia de moda.

“Steven foi, desde muito cedo, obcecado por moda, por fotografia, por modelos”, conta o agente, durante a visita guiada. No final da década de 1960, relata, ainda durante a sua adolescência, Steven faltava às aulas e plantava-se diante das agências de modelo nova-iorquinas, na esperança de conseguir fotografar, com a sua Kodak Instamatic, as modelos que entravam e saíam dos locais. Alguns desses instantâneos podem ser vistos logo à entrada da exposição, em conjunto com fotografias que realizou, já enquanto profissional, entre 1983 e 1992.

O fotógrafo de 68 anos não marcou presença no evento, embora tenha visitado a exposição durante o processo de montagem, em Agosto, segundo a Vogue. Tal não suscitou qualquer surpresa, já que raras são as suas aparições públicas. “Há fotógrafos de moda que se vêem como artistas, gostam de ser vistos, mas o Steven é muito reservado”, refere Leticia Castromil, a responsável pelo espaço expositivo. “Há um mistério em seu torno: nunca se deixa ver. Quando realiza as sessões fotográficas, estão presentes apenas ele e o modelo, mais ninguém – nem mesmo o maquilhador ou o agente [do modelo].”

Essa discrição, que lhe confere uma dimensão de mito e que se converte em intimismo nas sessões fotográficas assume importância no trabalho de Meisel, refere Moffat. A ausência de suporte técnico nas sessões significava que o fotógrafo “comandava toda uma orquestra” sozinho. “Outros fotógrafos trabalham com uma equipa que trata da maquilhagem, do cabelo dos modelos. O Steven era como o Prince, fazia tudo; e é isso que o torna num fotógrafo tão especial.”

A exposição Meisel 93, patente até dia 1 de Maio de 2023, surge no seguimento da Peter Lindbergh, Untold Stories, que terminou a 28 de Fevereiro do presente ano, no mesmo local. A fundação MOP tem, nas palavras de Leticia Castromil, o objectivo de trazer, anualmente, “exposições internacionais que sejam únicas”, relacionadas invariavelmente com a moda, e assim “abrir a Corunha ao mundo”.

O P3 visitou a exposição a convite da Fundação Marta Ortega Pérez

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