Locomotivas a vapor de Gaia: uma vai para a Guarda, as outras continuam sem destino

Locomotivas históricas estão na estação de Devesas desde os anos 90. Câmara de Gaia diz que são património nacional e não uma “questão gaiense”.

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Locomotivas que deixaram de funcionar nos anos 70 estão há mais de 30 anos em Gaia Fernando Veludo/NFACTOS

A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia rejeitou esta terça-feira que a permanência das locomotivas a vapor na estação das Devesas seja “uma questão gaiense”, entendendo que a preservação do património ferroviário cabe à CP - Comboios de Portugal.

“Não fazemos disto uma questão gaiense, porque não temos museu do comboio e acreditamos que este é um património nacional e não local”, pode ler-se numa resposta enviada pela autarquia à Lusa.

Para o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, “as locomotivas a vapor depositadas na estação das Devesas têm valor patrimonial”, mas com “valor museológico nacional, devendo ser atentamente assumidos como foco da intervenção da CP”.

“Por isso, entendemos que a opção e as despesas decorrentes dessa preservação devem ser assumidas pela CP, preservando uma memória colectiva nacional”, disse fonte oficial da câmara municipal daquele concelho do distrito do Porto.

Museu não avança

Anteriormente, em Outubro de 2012, o executivo municipal, liderado na altura por Luís Filipe Menezes (PSD), chegou a defender a manutenção de parte das locomotivas em Gaia, bem como a criação de um espaço museológico no local.

O então vereador do PS e hoje presidente da câmara lembrava a importância “do ponto de vista patrimonial” das locomotivas “originais”, propondo a manutenção das mesmas na estação de Gaia, tornando “aquele num espaço museológico”.

Também o vice-presidente da autarquia, o hoje deputado do PSD Firmino Pereira, considerou que aquele património deveria “ser salvaguardado e se possível mantido em Vila Nova de Gaia, nomeadamente numa das estações de referência que é a das Devesas”.

Questionada pela Lusa acerca das actuais obras a decorrer na estação das Devesas, a Infra-estruturas de Portugal (IP) esclareceu que a empreitada não inclui “as linhas onde se encontram estacionadas as locomotivas a vapor, pelo que não interferem com a boa execução da obra e não se torna necessária a sua relocalização”.

A caminho da Guarda...

Entretanto, uma das seis locomotivas a vapor que estão actualmente na estação das Devesas, em Gaia, será transportada na madrugada de sábado para a Guarda, disse fonte da CP à Lusa.

“Está prevista a movimentação da locomotiva CP 294 na madrugada do próximo dia 12 de Novembro de 2022 [sábado]”, disse fonte oficial da CP, referindo-se à locomotiva que irá para a Guarda, “de acordo com um protocolo entre a FMNF [Fundação Museu Nacional Ferroviário] e a autarquia dessa cidade, onde irá ser restaurada e colocada numa rotunda”.

Segundo a CP, a operação de movimentação da locomotiva “será feita durante a noite com interrupção da linha geral na estação de Vila Nova de Gaia para que a locomotiva 294 e o “tender” [vagão-reboque] sejam rebocados, acompanhados pela equipa dos Comboios Históricos da CP”, seguindo depois para a Guarda transportados por camiões.

Estão na estação das Devesas, desde os anos 90, seis locomotivas a vapor do início do século XX, que deixaram de operar em meados da década de 70: uma da Winterthur (número 072, de 1916), quatro da Henschel (números 282, 294, 0184 e 0190, de 1910, 1913, 1924 e 1924, respectivamente) e uma da Schwarzkopff (número 701, de 1912).

“A deslocação das restantes locomotivas para outro local encontra-se em avaliação, não tendo ainda sido tomada uma decisão”, refere a CP, que também adiantou que, “neste momento, não está prevista a alocação de outras locomotivas a outros espaços”.

A CP disse ainda à Lusa que “o restauro não é viável para a recolocação em condições de circulação, uma vez que implicaria custos idênticos ou superiores a uma locomotiva nova”, mas todas “poderão ser restauradas para fins estáticos e expositivos, mesmo replicando algumas peças em falta”.

Em Outubro de 2014, a CP deslocou as locomotivas a vapor na estação das Devesas para uma nova linha, “sem o perigo da instabilidade” verificado no local em que se encontravam naquela estação.

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