Locomotivas de Gaia mudam de sítio mas ainda não vão para o museu

Só três das seis máquinas a vapor que há duas décadas estão estacionadas em Vila Nova de Gaia serão salvaguardadas. As outras três serão demolidas.

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Há muitos anos que as locomotivas estacionadas em Gaia estão neste estado

As seis locomotivas a vapor que há 20 anos apodrecem em linhas secundárias da estação de Gaia vão mudar de sítio, mas continuarão ao ar livre até serem transportadas para outros destinos.

Temendo a instabilidade dos terrenos sobre os quais poisam as linhas e as locomotivas, passíveis de aluimento devido às chuvas, a CP fez deslocar uma poderosa grua à estação de Gaia para mudar as velhas máquinas a vapor de sítio. A operação vai demorar mais de duas semanas. Na prática, o material apenas muda para um local mais seguro.

A intenção da CP é, de acordo com um entendimento havido com o Museu Nacional Ferroviário, fazer deslocar três locomotivas para as instalações do museu, no Entroncamento. Uma operação que não se revela fácil porque estas máquinas já não podem locomover-se nem serem rebocadas e a CP não dispõe de vagões para as fazer transportar. A alternativa a um eventual transporte rodoviário será fazerem-nas deslocar sobre carris assentes em zorras.

Jaime Ramos, presidente da Fundação Museu Nacional Ferroviário, disse ao PÚBLICO que esta entidade não tem dinheiro para o transporte das locomotivas e que está dependente da CP para o fazer. “Podemos é criar as condições para as receber aqui no Entroncamento, guardá-las apropriadamente e depois, em tempo oportuno, recuperá-las o melhor possível”, disse.

Já as outras três poderão ter como destino Guifões (Porto), mas podem não chegar lá inteiras, uma vez que a intenção é desmantelá-las, aproveitar algumas peças e vender o resto para sucata.

Uma solução que não agrada aos amigos dos comboios que desde há 40 anos (quando terminou o tempo do vapor em Portugal) monitorizam o destino das velhas locomotivas. Em Outubro de 2012, Nelson Oliveira,  presidente da APAC (Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro) insurgia-se contra a demolição deste material. “O valor que a CP delas possa obter ao vendê-las é irrelevante face à sua importância patrimonial”, dizia, defendendo a sua utilização como monumentos estáticos ou como bases para instalações artísticas.

Enquanto defensora do património ferroviário, a APAC tem procurado que estes monstros de ferro e aço sejam valorizados como peças museológicas que marcaram os tempos do vapor e do carvão e que representam uma época precisa na história dos transportes.

Ainda assim,  algumas das recomendações desta associação foram tidas em conta. É o caso do aproveitamento de peças das locomotivas a abater, que servirão de sobressalentes para a 0187, a máquina a vapor que costuma rebocar o comboio histórico do Douro.

“Seria inacreditável que a actividade deste comboio turístico algum dia cessasse devido a danos irreparáveis nos rodados, cilindros, êmbolos ou bielas, quando a CP dispunha destes componentes no material que agora admite demolir”, dizia Nelson Oliveira.

As locomotivas que aguardam demolição têm os números de série 0184, 0190 e 072. As duas primeiras, “irmãs” da locomotiva do comboio histórico do Douro, vieram para Portugal nos anos 20 como indemnização de guerra da Alemanha. A terceira foi construída na Suíça em 1916.

Já as 294, 282 e 701, que aguardam encaminhamento para o Museu Ferroviário Nacional, no Entroncamento, são todas de origem alemã, mas com a característica de terem sido as primeiras a serem construídas de acordo com as especificações técnicas dos engenheiros portugueses. Até então as companhias de caminho-de-ferro (ainda não existia a CP) limitavam-se a comprar o que havia disponível no mercado.

As seis máquinas prestaram serviço em praticamente todo o país rebocando comboios mistos, rápidos e de mercadorias e foram retiradas do serviço na década de 70 (a linha do Douro foi a última de via larga a ter comboios a vapor). Durante 20 anos ficaram encostadas no depósito de Contumil e nos anos 90 foram mudadas para a estação de Gaia.

A CP nunca as guardou num local coberto pelo que após 40 anos de exposição às intempéries se encontram em adiantado estado de degradação.

 

 

 

 

 

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