PCP anuncia saída de Jerónimo de Sousa. Paulo Raimundo é o líder que se segue

Jerónimo de Sousa pediu ao Comité Central a sua substituição de secretário-geral. Partido faz-lhe rasgados elogios e anuncia sucessor

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Paulo Raimundo aderiu à Juventude Comunista Portuguesa em 1991 e é membro do Comité Central desde 1996.
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O anúncio da substituição de Jerónimo de Sousa foi feito de surpresa, já que se esperava que o assunto fosse abordado mais próximo da conferência nacional Daniel Rocha

O PCP anunciou esta noite que Jerónimo de Sousa pediu ao Comité Central para ser substituído nas funções de secretário-geral do partido que ocupava há 18 anos, mas mantendo-se como membro do comité. O próximo secretário-geral será Paulo Raimundo, de 46 anos, membro do Comité Central (CC).

Numa nota enviada às redacções pelas 21h, o partido anunciou que a proposta de eleição de Paulo Raimundo, operário, de 46 anos, como novo secretário-geral será feita na sequência de uma reunião do CC que decorrerá no próximo dia 12, durante a conferência nacional marcada para o próximo fim-de-semana. Paulo Raimundo faz quase o pleno: é actualmente membro da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central.

“Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, no prosseguimento de uma avaliação própria, reflectindo sobre a sua situação de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que assume, colocou a questão da sua substituição nas funções que desempenha, mantendo-se como membro do Comité Central do PCP”, lê-se no comunicado.

O partido salienta “a grande dedicação e empenho com que assumiu estas elevadas responsabilidades, por um longo período, exemplo de compromisso com o ideal e projecto do PCP, ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país, da paz, da amizade e solidariedade entre os povos, bem como a disposição de prosseguir a sua acção militante”.

Apesar de a continuidade de Jerónimo de Sousa como secretário-geral do PCP ser assunto há vários anos, o líder comunista sempre disse que o assunto não estava “em cima da mesa”, mas que “um dia aconteceria”. No último congresso, há dois anos, em Loures, voltou a ser eleito com esmagadora votação.

Mas a operação à carótida interna esquerda a que foi sujeito de urgência no início deste ano, que o impediu de participar em quase toda a campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de Janeiro, precipitou a mudança. Nos últimos meses, Jerónimo de Sousa voltou a ter agenda concorrida ao fim-de-semana, embora com menos eventos do que antigamente e reduziu a participação em algumas manifestações em que costumava fazer uma parte do percurso. A 15 de Outubro, Jerónimo de Sousa não foi à manifestação da CGTP em Lisboa, onde estava prevista a sua presença, por causa de um “problema de saúde pontual”, justificou o partido.

Um “operário” mais jovem

Paulo Raimundo, cujo nome vai ser ratificado daqui a uma semana, “é de uma geração mais jovem”, realça o partido. Tem um percurso de vida “marcado por uma experiência diversificada, com capacidade, inserção no colectivo, preparado para uma responsabilidade que associa a dimensão pública à ligação, contacto e identificação com os trabalhadores e as massas populares e com o partido, as suas organizações e militantes”.

Aderiu à Juventude Comunista Portuguesa em 1991 e ao PCP em 1994. Passou ao quadro de funcionários da JCP em 1995 e do partido em 2004. Já passou por todos os órgãos da juventude: foi membro da Direcção Nacional, da Comissão Política e do Secretariado da JCP. É membro do Comité Central desde 1996 e também no PCP já passou por todos os órgãos dirigentes, para além de ter sido responsável pela Organização Regional de Braga.

O futuro líder comunista, salienta o partido, “associa qualidades humanas próprias a uma experiência densa e diversificada, um trabalho político em múltiplas áreas de organização e intervenção com responsabilidades pelo trabalho da juventude e da JCP, integração e direcção de organizações regionais, tarefas nas áreas sindical, de acompanhamento de sectores e empresas e dos serviços públicos, entre muitas outras. Um percurso de vida dedicado à defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo português, por um Portugal com futuro, pelo ideal e projecto comunistas.”

De acordo com informação disponibilizada pelo PCP, Paulo Raimundo tem 46 anos, é casado e tem três filhos. “É filho de trabalhadores naturais do concelho de Beja, mas nasceu em Cascais, concelho onde os pais trabalhavam à época, como funcionários do Estoril Futebol Clube, em cujas instalações também residiam.”

A família mudou-se para Setúbal quando Paulo Raimundo tinha três anos, onde os pais se fixaram e trabalharam. Frequentou a Escola Primária do Faralhão, freguesia do Sado, em Setúbal, “uma escola construída durante a Revolução de Abril, na dinâmica do trabalho solidário e voluntário dos trabalhadores e populações da localidade”.

“A sua infância é marcada pela vivência de rua e junto ao rio Sado. Desde muito novo acompanhou a mãe nos trabalhos que realizava na agricultura, nas limpezas e nas obras, e, num determinado período, passou efectivamente a trabalhar com a mãe, nomeadamente na apanha de marisco. Frequentou a tele-escola no 5.º e 6.º anos e a partir daí frequentou a Escola Ana de Castro Osório, na Bela Vista, em Setúbal, onde fez o terceiro ciclo e “teve o primeiro contacto com dinâmicas associativas, de organização e de luta estudantis”.

Passou depois para a Escola Secundária da Bela Vista, “num período em que a dinâmica estudantil em diferentes expressões é muito viva e a luta política é intensa”, e onde participou na associação de estudantes e na comissão de finalistas. Ainda no secundário passou a ser trabalhador-estudante e acabou o 12.º ano no ensino nocturno já na Escola Secundária D. Manuel Martins, também em Setúbal.

“O período em que estudou e trabalhou permitiu contacto com diferentes realidades laborais e sociais. Trabalhou em carpintaria, foi padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade (ACM) na Bela Vista”, um bairro considerado problemático na cidade sadina, onde trabalhou sobretudo com crianças.

“Realidades que lhe permitiram sentir as contradições do dia-a-dia, a realidade do trabalho mal pago, da exploração e da precariedade e, por outro lado, ter a vivência da camaradagem e da solidariedade entre os trabalhadores. Este é um período em que, simultaneamente à sua intervenção partidária, associa a participação num grupo de jovens de cariz cultural e lúdico.” Cumpriu depois o serviço militar obrigatório, em Vila Nova de Gaia e no Porto.

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